sábado, 26 de dezembro de 2015

Revolução Democrática de Tipo Novo e Mao Zedong

(Aos 122 anos do nascimento de Mao Zedong)

(Escrito em 27/12/2015)


Escrito por I.G.D.


Ontem, dia 26 de dezembro de 2015, fizeram exatos 122 anos do nascimento do camarada Mao Zedong, o grande dirigente da Revolução Chinesa de 1949, que foi proporcionalmente, a maior das revoluções de toda a história da humanidade, libertando um quarto da população mundial da dominação imperialista e do feudalismo, estes que entravavam o desenvolvimento da sociedade chinesa.
Mao Zedong desde jovem foi um patriota, que reconhecia que a China era um país oprimido por potências estrangeiras.
Após a Revolução Socialista de Outubro na Rússia em 1917, Li Dazhao, que foi um dos primeiros a difundir o marxismo na China, fez um discurso na Praça Tianmen em Pequim em defesa da grande revolução proletária que havia acontecido no país vizinho. Mao Zedong, que viu de perto o discurso de Li Dazhao, conclui que o único caminho para a emancipação completa da nação chinesa de todos os males que a corroíam, era o do marxismo e da revolução proletária. A partir deste momento, a Universidade de Pequim onde Li Dazhao trabalhava como professor e Mao Zedong como bibliotecário, passou a ser um foco da fermentação intelectual da futura Revolução Chinesa.
Estudando profundamente a sociedade chinesa e o marxismo-leninismo, o camarada Mao Zedong e mais 12 camaradas de diversos círculos marxistas se reuniram na concessão francesa de Xanghai e realizaram, no final de junho, o primeiro congresso do Partido Comunista da China (PCCh) que teve duração de uma semana. Em tal congresso, foi declarada a fundação do Partido Comunista da China, que tinha a tarefa de formar sindicatos e educar a classe operária.
Em 1927, o reacionário General Chiang Kai-shek leva a cabo um golpe de Estado, e coloca o seu antigo aliado da Expedição do Norte (1925-1926) (1), o Partido Comunista da China, na ilegalidade, e assim, dando início a um longo período de conflitos armados entre estas duas organizações.
Mesmo com a ausência do camarada Mao Zedong, que se encontrava com tropas guerrilheiras na região montanhosa de Jinggang, no sul do país, o Partido Comunista da China definiu, no VI Congresso do Partido(2) realizado entre 18 de junho e 10 de julho, que a China possuía um caráter semicolonial, pois o imperialismo dominava vastos setores de sua economia, entravando seu desenvolvimento e fazendo do grande país um exportador de matérias primas, uma zona de influência militar e política, uma esfera de investimentos de capital excedente e um grande mercado para seus produtos industrializados. Mao Zedong colocou concisamente em um de seus textos que “As potências imperialistas estabeleceram várias empresas industriais na China, ligeiras e pesadas, para beneficiarem diretamente das matérias primas e mão de obra barata, passando assim a exercer uma pressão econômica direta sobre a indústria nacional e a obstruir frontalmente o desenvolvimento das forças produtivas chinesas” (A Revolução Chinesa e o Partido Comunista da China, de Mao Zedong, 1939). E continua, alegando que “as potências imperialistas monopolizaram os bancos e as finanças da China, com empréstimos ao governo chinês e estabelecimento de bancos no nosso país. Assim, elas não só esmagavam o capitalismo nacional chinês na competição mercantil, mas também estrangulavam a China no domínio bancário e financeiro” (A Revolução Chinesa e o Partido Comunista da China, de Mao Zedong, 1939).
O caráter semicolonial, condicionava também, um caráter semifeudal do país, pois o imperialismo, para entravar o desenvolvimento e o progresso da sociedade chinesa, se apoiava nas sobrevivências do feudalismo para conter a industrialização da China. O camarada Mao Zedong nos explica que “As potências imperialistas converteram a classe dos senhores de terras feudais, ademais da classe dos compradores, no sustentáculo principal da dominação que exerciam sobre a China. O imperialismo “alia-se antes de mais a classe dominante da estrutura social antiga, senhores de terras feudais e burguesia comercial usurária, contra a maioria do povo. Por toda a parte (especialmente no campo) o imperialismo tenta preservar e perpetuar as formas pré-capitalistas de exploração, base de existência dos seus aliados reacionários. ” “...O imperialismo, com todo o seu poder financeiro e militar na China, é a força que apoia, inspira, fomenta e preserva as sobrevivências feudais, bem como toda a superestrutura burocrático-militarista” (A Revolução Chinesa e o Partido Comunista da China, de Mao Zedong, 1939).
Depois de dar destaque ao caráter semicolonial e semifeudal da China, o camarada Mao Zedong colocou que a revolução chinesa se divide em duas etapas históricas, sendo a primeira de nova democracia e a segunda socialista. O camarada Mao Zedong, colocou em seu texto “Sobre a Democracia Nova” de 1940, que as revoluções democrático-burguesas de velho tipo já não possuem cabimento nas atuais circunstâncias, onde o capitalismo já se encontra em sua etapa suprema e que as revoluções democrático-burguesas em países coloniais e semicoloniais iriam elas mesmas abalar a própria estrutura do imperialismo, (onde um pequeno punhado de países capitalistas exploram arduamente o resto do globo) e este, iria combate-las ferozmente. Na etapa do capital monopolista, portanto, as revoluções democrático-burguesas “já não são mais revoluções do tipo antigo, dirigidas pela burguesia no intuito de estabelecer uma sociedade capitalista e um Estado sob ditadura da burguesia. Elas pertencem ao tipo novo de revolução, dirigida pelo proletariado e visando, na primeira etapa, o estabelecimento duma sociedade de democracia nova e de um Estado de ditadura conjunta de todas as classes revolucionárias. Assim, tais revoluções servem realmente o objetivo de rasgar um mais amplo caminho ao desenvolvimento do socialismo” (Sobre a Democracia Nova, de Mao Zedong, 1940). Ou seja, tal etapa de “Democracia Nova”, terá um Estado dirigido por todas as classes revolucionárias com o proletariado encabeçando-as, e assim este último estará em uma posição vantajosa para lutar pela transição ao socialismo.
O estudo da luta revolucionária, democrática e anti-imperialista, levada a cabo pelas massas chinesas dirigidas pelo Partido Comunista da China e pelo camarada Mao Zedong, são essenciais e devem servir de base de luta para todos os povos, não apenas da Ásia, mas também da África e da América Latina, em especial o Brasil.
Os vinte e dois anos entre 1927 e 1949 foram um período de prolongados e violentíssimos enfrentamentos armados que forjaram e transformaram, não apenas o grande timoneiro e camarada Mao Zedong, mas também o Partido Comunista da China, este último em um partido tão forte e tão unido organicamente como nenhum outro na história; transformaram o Partido Comunista da China na organização comunista mais experiente já vista, tanto em questões políticas como militares.

O estudo do pensamento de Mao Zedong se faz necessário para todos aqueles que se dizem comunistas!
Viva ao Partido Comunista da China e a Revolução Chinesa!
Viva ao camarada e Presidente Mao Zedong!


Notas:
(1). A Expedição do Norte (1925-1926) que estava sendo posta em prática pelo Exército Nacional Revolucionário, dirigido pelo Kuomintang e pelo Partido Comunista da China, foi uma ação que tinha como finalidade combater os senhores de terra chineses (conhecidos também como “Senhores da Guerra”) da região norte do país. Em um curto espaço de tempo e com o apoio da população local, os exércitos privados dos senhores Wu Peifu e de Sun Chuangfang foram derrotados, resultando na conquista de quase metade do país.
(2). Uma estatística interessante e que foi apresentada no Congresso, foi que, desde março de 1927, até a primeira metade de 1928, o Kuomintang assassinou 310 mil elementos que constituíam o Partido Comunista e as massas populares revolucionárias.


Referências:
- Enlai, Z. Eliminar Resolutamente do Partido toda a Ideologia Não Proletária (1928). Obras Escolhidas, vol. I.
- Suyin, H. China no ano 2001. Zahar Editores, 1968.
- Zedong, M. A Revolução Chinesa e o Partido Comunista da China (1939). Obras Escolhidas, vol. II.
- Zedong, M. Sobre a Democracia Nova (1940). Obras Escolhidas, vol. II.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

N.D.F.: Mais seis frentes guerrilheiras foram formadas em Mindanao

Escrito por Zea Io Ming C. Capistrano

(De davaotoday.com)
Traduzido por I.G.D.



A Frente Nacional Democrática das Filipinas (National Democratic Front – N.D.F.) disse que a revolução continua a avançar na ilha de Mindanao, mesmo com a implantação por parte do governo de 60 por cento de suas forças armadas na região.
A N.D.F. é o braço político do Partido Comunista das Filipinas (Communist Party of Philippines - C.P.P.), que estará celebrando seus 47 anos de existência neste próximo sábado.
A Guerra popular prolongada, dirigida pelo Partido Comunista das Filipinas, é apontada como a insurgência de mais longa duração em toda a Ásia.
Ka Oris, porta-voz da Frente Nacional Democrática das Filipinas em Mindanao disse, em um documento, que a operação de contra insurgência do governo, chamada Oplan Bayanihan (O.P.B.), implantou “60 batalhões ou 60 por cento de suas forças armadas em Mindanao”. Sessenta por cento do total das posições militares estão implantadas nas áreas de atuação do Novo Exército Popular (New People’s Army – N.P.A.), disse Ka Oris.
“Além disso, há também a Polícia Nacional das Filipinas, “Unidades de Cidadãos Armados” e outros grupos paramilitares como o BULIF, Alamara, Gantangan, Bagani, Magahat, Grupo de Calpet, entre outros. Tais grupos levam a cabo ferozes e sujas táticas terroristas a fim de atacar o povo e fazer frente a oposição armada e não-armada”, disse ele.
De 40 frentes guerrilheiras durante o primeiro ano da gestão de Benigno Aquino III em 2010, a Frente Nacional Democrática das Filipinas coloca que as forças do Novo Exército Popular se expandiram para 46, estas espalhadas em cinco regiões.
A N.D.F. disse que nenhuma frente foi desmantelada. Esta apresentou que fora as 200 cidades e municípios onde eles atuam, operavam também em 1.850 aldeias no ano de 2010; hoje, o número de aldeias aumentou para aproximadamente 2.500.
“Um terço dessas áreas são áreas consolidadas, enquanto que várias outras destas estavam sob a direção de órgãos de poder político ou do governo popular democrático de massas a nível de bairro e outras a níveis de cidade ou vila”, manifestou Ka Oris.
As bases de massas do Novo Exército Popular cresceu de 130.000 em 2010, para 200.000 nos dias atuais. Ka Oris alegou que suas bases de massas populares facilitam as manobras de tropas do N.P.A. nas áreas rurais e fornecem uma base sólida para o partido e o N.P.A. recrutarem novos combatentes, que irão ajudar no lançamento das campanhas populares.
Ka Oris alegou que o aumento das formações do N.P.A. também levou a um aumento dos números de ofensivas táticas levadas a cabo em Mindanao.
Ele disse que houveram crescimentos anuais das ofensivas táticas: 250 em 2010, 350 em 2011, 400 em 2012, quase 400 nos anos de 2013 e 2014, e quase 500 neste ano.
Ka Oris citou algumas das maiores ações militares incluindo o assalto contra o exército privado do Prefeito Joselito Brillantes Jr., de Monkayo, em abril de 2014, onde foram apreendidas 74 armas de fogo.
Outras operações de sucesso, segundo Ka Oris, foram o assalto ao quartel general da Polícia Nacional das Filipinas em Tigbao, Zamboanga del Sur, Don Victoriano, Misamis Ocidental, and Alegria, Surigao del Norte; o assalto contra o Organização Comunitária do Exército para a Paz e Desenvolvimento nas cidades de Gingoog, Tandag City e San Fernando, em Bukidnong; a incursão contra um destacamento do Exército-Cafgu em Binicalan, San Luis, Agusan Del Sur; em Balingasag, Misamis Oriental, e Banay-banay em Davao Oriental; e a punição contra três grandes companhias mineradoras em Taganito, Claver, Surigao Del Norte, e a plantation de Del Monte Phils em Bukidnon.
A N.D.F. também pronunciou que o N.P.A. executou um equivalente a um batalhão das forças armadas só neste ano, em Mindanao.
“Nós não incluímos ainda aqueles que ferimos em combate, enquanto que, as baixas por parte do N.P.A. foram apenas algumas”, disse Ka Oris.
Oris disse que o N.P.A. também capturou 61 prisioneiros de guerra somente em Mindanao, durante a gestão de Benigno Aquino III.
Entretanto, o comandante do exército nacional no Leste de Mindanao, o Major General Rey Leonardo Guerrero, declarou a causa do N.P.A. como irrelevante, citando o desenvolvimento dos esforços do governo nas regiões camponesas.
Defensores da paz vem pedindo ao governo e ao N.D.F. para retomar as negociações de paz formais.
“Que esse tempo de esperança inspire ambas as partes para que quebrem este muro de inimizade, e se engajem em negociações para pôr fim ao conflito armado que ocorre há décadas no país”, disse a Plataforma Filipina de Paz Ecumênica em um documento na quinta-feira passada.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

República Democrática do Kampuchea: um resumo histórico

Por Clóvis Manfrini Souto Calado

(Publicado inicialmente pelo http://www.novacultura.info/)


 Em 1989, no auge da derrocada dos países socialistas que – erradamente – caminhavam na estrada esburacada do revisionismo, as tropas do Vietnã finalizam a ocupação dez anos antes e que pôs fim a uma das experiências mais independentes e radicais da construção do socialismo: a República Democrática do Kampuchea.



O Camboja (Kampuchea)
No primeiro século até o século V de nossa Era, o Camboja (Kampuchea na língua khmer) fazia parte do grande Estado de Fu-nan. A partir do século VI o reino de Chen-la (conhecido com o a terra dos cambuja) sucede o antigo Estado. O reino de Angkor surge por volta do ano 800 e existirá até 1450. Durante o desenvolvimento desse período Angkor várias guerras por disputas territoriais existiram. Ao Norte com o reino de Sião (atual Tailândia) e ao sul com o Vietnã. Essas guerras foram mais cruentas com a chegada do século XIX e a entrada de portugueses e holandeses nos conflitos. As disputas coloniais estavam em jogo.

O estágio colonial francês tem início em 1863, graças a acordos do monarca cambojano Norodom com o Governo da França. Em 1887, o Camboja passa da condição de protetorado da França para ser membro da União Indochina (uma grande colônia francesa que abrigava, além do Camboja, Vietnã, Laos e Tailândia). A independência do Camboja se dará somente em 1953 depois de décadas de reivindicações nacionalistas. Norodom Sihanouk abdica o trono em favor do pai (Norodom Suramarit) e funda o Partido Sangkum (nacionalista). O Sangkum elege toda a bancada parlamentar nas primeiras eleições pós-independência e – após a morte do pai (em 1960), Sihanouk se torna chefe de Estado e de Governo (sem reivindicar o título de rei). Sihanouk é derrubado por um Golpe patrocinado pelos Estados Unidos em 1970.

Nas lutas pela independência, o Partido Revolucionário do Povo Khmer (comunista), que surge no começo da década de 1950 após a divisão do Partido Comunista da Indochina em partidos regionais (Camboja, Vietnã e Laos), é o que mais se destaca. Nas eleições de 1955, já que estava clandestino o PRPK, os comunistas cambojanos fundam uma legenda legal (Krom Pracheachon) para participar do processo. O partido recebe 4% dos votos, embora não consiga nenhuma cadeira no parlamento todo dominado pelo Sangkum. Perseguidos por Sihanouk (que apelidou de forma pejorativa o povo khmer que lutava bravamente de “khmer vermelho”) o PRPK racha logo após as eleições. Dois grupos, o “urbano” (liderado por Tou Samouth) e o “rural” (liderado por Sieu Heng), passam a promover conflitos internos. A tendência “urbana” (apoiada pelo Partido Comunista do Vietnã) defendia a posição de apoio ao que chamavam de “príncipe progressista” (Sihanouk); a “rural”, ao contrário, adotava a posição de guerra popular para derrotar o que chamavam de “senhor feudal” o mesmo príncipe. O líder Sieu Heng passa para o lado inimigo e colabora com a repressão, destruindo cerca de 90% da organização no campo. Apenas algumas centenas de comunistas ligados a facção “rural” permanecem atuando na capital Phnom Penh.

Um grupo de estudantes comunistas cambojanos, que viviam na França, já se organizavam. Esses comunistas ainda não tinham muitas ligações com o confuso PRPK e em setembro de 1960 (após anos de clandestinidade) organizaram um Congresso e fundaram o Partido dos Trabalhadores do Kampuchea. Dos 21 líderes que participaram desse Congresso de formação, 14 faziam parte da antiga facção “rural” e eram profundamente antivietnamitas. Formou-se um Comitê Central e Tou Samouth torna-se secretário-geral. Pol Pot (fora um dos líderes estudantis que formaram o Círculo Marxista na França) torna-se o terceiro nome no Partido e fazia parte da linha “rural”. Em 1962, após o assassinato de Samouth pelo Governo cambojano, Pol Pot assume o poder e é eleito secretário-geral durante o Segundo Congresso do PTK.

O novo dirigente deixa a capital e conduz cerca de 100 militantes para o campo, na Província de Ratanakiri (noroeste do país), formando uma base insurgente. A maioria dos dirigentes do PTK desertou antes e foram presos pelo regime de Sihanouk. Em 1965, Pol Pot viaja e passa o ano recebendo formação no Vietnã do Norte (socialista) e na China. O Governo chinês mantinha boas relações com Sihanouk, no entanto fez segredo dessa “visita” de Pot para treinamentos. Entre 1967 tem início a guerra popular comandada pelo ainda PTK, com poucos êxitos. A escalada nacional de guerra civil se daria somente a partir de 1968. As forças guerrilheiras eram denominadas de Exército Revolucionário do Kampuchea (ERK). Em 1971 o PTK muda de nome e surge o Partido Comunista do Kampuchea. A nova denominação ficou em segredo entre os dirigentes comunistas kampucheanos e a China Popular.

Em 18 de março de 1970, um Golpe patrocinado pelos Estados Unidos derruba o Governo do príncipe Sihanouk e uma Junta Militar (liderada por Lon Nol) assume o poder. A União Soviética imediatamente reconhece o novo Governo. Antes desse Golpe, os Estados Unidos – que estavam massacrando os vietnamitas numa Guerra assassina – já entravam em território cambojano para combater as tropas do Vietnã do Norte.

Os milhões de mortos cambojanos
A justificativa para a invasão do Kampuchea em 1979 pelos invasores vietnamitas foi o “genocídio promovido pelos khmers vermelhos”. Esta falsificação histórica é mais uma das muitas que pontuam a história escrita pela burguesia para tentar manchar as revoluções populares e socialistas ao longo do tempo. Desde 1871 (com a Comuna de Paris) que a burguesia calunia socialistas e comunistas e lhes pinta de assassinos e genocidas, quando – na verdade - os assassinos e genocidas da humanidade ao longo do tempo são as classes dominantes. Nestas contas absurdas, feitas muitas vezes em redações de jornais da burguesia, Lênin e Stálin “mataram” 70 milhões e Mao ultrapassou a casa dos 100 milhões. Cifras absurdas que deixam os mais atentos desconfiados. No caso da União Soviética até hoje se propaga a farsa dos “milhões de soviéticos mortos por Stálin”. Tudo não passa de uma mera visão reduzida da História e uma maneira de manipular as massas através da contrapropaganda e colocá-las contra o socialismo.

No Camboja, esta matança realmente existiu, e foram – provavelmente – mais de 1 milhão de cambojanos assassinados. No entanto, os assassinos não foram camponeses pobres que empunham fuzis e viviam com econômicas rações de arroz para sobreviver e uma vida de total entrega à causa revolucionária. Os assassinos do povo cambojano (a maioria camponeses e trabalhadores pobres) foram os agressores ianques. O Camboja foi – até hoje – o país mais bombardeado da História. Estes criminosos bombardeios, falsamente justificados para conter o avanço das tropas do Vietnã do Norte que atravessavam a fronteira cambojana, tiveram início em 18 de março de 1969. Esta primeira fase de agressão matou cerca de 1 milhão de cambojanos (a maioria mulheres e crianças) e deixou mais de dois milhões de cambojanos refugiados (muitos desses morreram em consequências da fome e de sequelas das bombas jogadas pelos assassinos ianques).

Ainda em 1969, antes da derrubada do Governo Sihanouk e mesmo com sérias divergências pelo caráter burguês do príncipe, o PTK inicia conversações com forças antiimperialistas e funda a Frente Nacional de Libertação (liderada por Kieu Shampan e Pol Pot, do PTK e pelo príncipe Sinahouk que após o Golpe passa a viver na China e auxilia a guerra popular agindo como relações exteriores, conseguindo recursos e armas para o movimento).

Durante os anos de luta guerrilheira, Kieu Shampan organiza uma Conferência com os partidos comunistas do Laos, Vietnã do Norte, FLN do Vietnã do Sul (vietcongs) e FNL do Camboja. Nesta Conferência é denunciado o genocídio cometido pelos ianques contra o povo cambojano. É daí que os inimigos do socialismo se apoderaram das informações sobre o assassino em massa e mudam as autorias dos crimes, passando a culpar membros do PTK. A falsificação histórica estava feita. A partir dessa Conferência o Ocidente passa a atribuir ao “assassino Pol Pot” os mais de “três milhões de mortos” do Camboja. Essa versão fantasiosa ganhou popularidade após o livro-reportagem do jornalista ianque (do The New York Times) Sidney Schanberg. O livro A Morte e Vida de Dith Pran, baseado em depoimentos de seu amigo e médico cambojano Dith Pran. Um depoimento um tanto suspeito, já que o médico consegue “fugir” do Kampuchea e chegar aos Estados Unidos onde seria um famoso repórter do TNYT. Hoje é um dos ativistas mais anticomunistas que existem e faz palestras para relembrar o “genocídio cometido pelos marxistas cambojanos”. Pran não passa de um agente muito bem pago (diga-se de passagem) pelo imperialismo norte-americano.

Os revolucionários da FNL chegam a Phnom Penh em 17 de abril de 1975 e o Exército do Governo títere de Lon Nol se rende. Antes de deixar a capital, as forças anticomunistas e revisionistas destroem documentos que comprovam mais crimes contra o povo cambojano cometidos por Lon Nol e pelos Estados Unidos, crimes silenciados pelos embaixadores da União Soviética e da RDA.

É fundada a República Democrática do Kampuchea.

Uma revolução profunda e original
Muitos marxista-leninistas, ainda hoje, não tem boa vontade em compreender a experiência socialista do Kampuchea Democrático. Ignoram os aspectos culturais, sociais e econômicos e – principalmente - o contexto histórico da luta antiimperialista e socialista liderada pelo Partido Comunista do Kampuchea. A decisão do PCK foi de total independência e se posicionou contra qualquer forma de copiar modelos de outras experiências revolucionárias e também de não depender somente da ajuda estrangeira era uma das regras da direção comunista. Tinham, é fato, se baseado na forma de luta da guerra popular, mas, sem deixar de lado as características particulares do Camboja.

As decisões que causam certos preconceitos (mesmo entre marxista-leninistas) são profundas e radicais, como por exemplo, a abolição do dinheiro (aliás, um fetiche segundo Marx) e o deslocamento da maioria da população urbana para o campo. No caso desta última medida, o novo Governo de construção socialista não tinha condições materiais para – de imediato – reconstruir as cidades que foram duramente bombardeadas pelos norte-americanos e decidiu que a maioria do povo seria deslocado para regiões rurais onde poderiam ter mais segurança no caso de novos ataques ianques. Em 1975, mesmo com o fim da Guerra do Vietnã, quem garantia que os Estados Unidos não voltariam a atacar a região utilizando inclusive artefatos nucleares? Este era o temor da liderança comunista. Em 1978 o jornal sueco Dagem Nyveter, em uma longa reportagem, afirmou que “em apenas três anos após o fim da guerra, a nação estava se alimentando e exportando o excedente de arroz”. Assim, o plano de reconstruir o país arrasado pelas bombas norte-americanas estava dando certo e o país já se recuperava da fome que o povo cambojano foi submetido desde o início das agressões do imperialismo. Na questão da abolição do dinheiro, foram criados bônus que correspondiam ao tempo de trabalho realizado para trocas de víveres, serviços e vestimentas nas cooperativas estatais. Também foram construídas milhares de novas habitações para o povo, confortáveis, diferentes das antigas construções cobertas de palha.

Outro interessante depoimento é do jornalista norte-americano Malcom Caldwell que esteve no país em dezembro de 1978 e, após investigar pessoalmente a experiência socialista kampucheana, teceu vários elogios sobre o que se passava de fato lá.  Misteriosamente, este jornalista foi assassinado por agentes ligados ao Vietnã (consequentemente ligados à agentes soviéticos). O jornalista foi testemunha da experiência totalmente nova que estava sendo posta em prática naquele momento.

A invasão vietnamita
O Vietnã, após a independência da Indochina, se achou no direito de ser o legitimo herdeiro da colônia francesa e passou a provocar atritos de fronteiras com o Camboja. Quando o PCK conseguiu formar o Governo revolucionário, a independência e a decisão dos dirigentes do Kampuchea Democrático em não aceitar intervenções e modelos impostos por outras nações socialistas causou um mal-estar no Vietnã Socialista. É bom destacar que neste período, 1975, as tensões entre URSS e China Popular ainda eram altas. O socialismo na URSS estava atravessando uma profunda crise (econômica e ideológica), instalada após a subida ao poder do revisionista e quinta-coluna Nikita Kruschev e agravada com a chegada do também revisionista Leonid Brejnev. A China, com Mao ainda no Poder, apoiava a luta khmer e oferecia ajuda militar aos kampucheanos para resistir. Mesmo com todas as dificuldades de um país atrasado economicamente e arrasado pelas milhões de bombas imperialistas jogadas em seu território o povo kampucheano em sua imensa maioria apoiava o novo regime.

Em fins de 1978 o Vietnã patrocinou a criação de um movimento de “resistência”, a Frente de Libertação Nacional. Na verdade, esta “resistência” ao PCK era formada por agentes de Hanói com ajuda da URSS e da República Democrática Alemã. A invasão ao território kampucheano, após meses de provocação nas fronteiras Kampuchea/Vietnã, se deu em 1º de janeiro de 1979. A máquina de Guerra vietnamita – com tanques soviéticos de última geração e caças Mig 21 (também de fabricação soviética) – não permite ao pequeno e ainda mal equipado Exército Revolucionário do Kampuchea (ERK) uma resistência efetiva. Sete dias após o início da invasão vietnamita, a capital Phnom Penh cai e o ERK (juntamente com o PCK) decide recomeçar uma guerra popular e formar colunas guerrilheiras em regiões montanhosas na fronteira com a Tailândia. O Vietnã cria uma República Popular do Camboja e forma um fictício “Partido Comunista do Camboja”. O país passa a ser dirigido por um ex-dirigente do PCK, Heng Samrin (ex-oficial de baixa patente do ERK). 200 mil soldados vietnamitas passam a ocupar oficialmente o Camboja.

Um depoimento esclarecedor sobre essa invasão e sobre os progressos atingidos pelo Governo do PCK foi dado pelo jornalista sueco Jan Myrdal. Myrdal, em seu livro “Kampuchea, 1979”, descreve o fim da fome no país, a reconstrução das ferrovias, o reparo nas comunicações (principalmente telefonia) e a construção de milhares de casas para a população que antes vivia em choupanas. O jornalista também fala das escolas que visitou e os vários livros que viu publicados no país. Segundo Myrdal, qualquer um podia ver esse progresso.

Em 1980, as forças anti-vietnamitas se unificaram e formaram um Governo tripartite com Sihanouk presidente e Kieu Samphan como vice. Esse Governo funcionava desde a China (onde Sihanouk vivia exilado). A luta durou até a queda do Governo títere vietnamita em 1989. O país muda de nome mais uma vez em 1993 e restaura a monarquia com a volta de Sihanouk ao poder (que abdica e passa a seu filho a liderança). O PCK ainda lutava por volta de meados dos anos de 1990, no entanto, debilitado e perseguido, Pol Pot é encontrado morto em sua modesta residência no campo após ser preso pelos próprios companheiros.

A desinformação sobre a experiência socialista no Kampuchea Democrático ainda é grande. A intelectualidade burguesa exerce uma força gigantesca e influencia setores da esquerda (muitos marxistas-leninistas inclusive) no sentido de caluniar Pol Pot e fazer dele um monstro. Erros foram cometidos, sem nenhuma dúvida, mas, não na dimensão que querem fazer crer os hipócritas e verdadeiros criminosos que diariamente caluniam sobre o movimento comunista. Chegará o dia em que a verdade será mostrada às massas e todos estes caluniadores a serviço da burguesia serão julgados pelo povo.


Referências:
- Chomsky, Noam e Herman, Edward S. Os guardiões da liberdade. Grijalbo Mondadori.
- Kampuchea democrática (em www.maoistasbolivianos.blogspot.com.br).
- Enciclopédia Barsa Universal, Volume 4, Editora Planeta, 2009.

Carta de Ho Chi Minh ao Partido Comunista da Indochina

Por Ho Chi Minh

(Kwelin, 10 de maio de 1939)

Traduzido por I.G.D.

Cartaz com a imagem de Ho Chi Minh e
abaixo está escrito: Partido Comunista do Vietnã.
Queridos camaradas: No passado, segundo minha opinião e de um bom número de camaradas, o trotskismo aparece para nós como uma questão de luta entre as tendências no seio do Partido Comunista da China. Por isso quase não lhe prestamos atenção. Mas, pouco antes do estalar da guerra, mais exatamente desde o fim do ano de 1936, e sobre tudo durante a guerra, a propaganda criminosa dos trotskistas fez com que nós abríssemos os olhos. Depois, nos pusemos a estudar o problema. E nosso estudo nos levou às seguintes conclusões:

1. O problema do trotskismo não é uma luta entre as tendências no seio do Partido Comunista da China. Porque entre comunistas e trotskistas não existe qualquer laço, absolutamente nenhum. Se trate de um tema que concerne ao povo inteiro: a luta contra a pátria.
2. Os fascistas japoneses e estrangeiros o conhecem. Por isso buscam criar falácias para enganar a opinião pública e prejudicar o nome dos comunistas, fazendo com que as pessoas pensem que comunistas e trotskistas pertencem ao mesmo campo.
3. Os trotskistas chineses (assim como os trotskistas de outros países) não representam um grupo, muito menos um partido político. Não são mais do que uma corja de criminosos, de cães de caça do fascismo japonês (e do fascismo internacional).
4. Em todos os países, os trotskistas se deram belos apelidos para mascarar sua tarefa suja de bandidos. Por exemplo, na Espanha, se chamam Partido Operário de Unificação Marxista (POUM). Vocês sabiam que são eles que constituem ninhos de espiões em Madrid, em Barcelona e em outros lugares, a serviço de Franco? São eles que organizam a célebre “quinta coluna’’, um organismo de espionagem do exército dos fascistas italianos e alemães. No Japão, se chamam Liga Marx-Engels-Lenin (MEL). Os trotskistas japoneses atraem os jovens para sua organização e logo os denunciam para a polícia. Buscam penetrar no Partido Comunista Japonês com o objetivo de destruí-lo por dentro. Segundo minha opinião, os trotskistas franceses, atualmente organizados em torno do grupo Revolução Proletária(1) estabeleceram como meta sabotar a Frente Popular. Sobre este assunto, penso que vocês estarão mais informados que eu. Em nosso país, os trotskistas se agrupam em organizações tais como La Lutte, Guerra contra os Japoneses, Cultura e Bandeira Vermelha.

5. Os trotskistas não são apenas inimigos do comunismo, mas também inimigos da democracia e do progresso. São os traidores e os espiões mais infames. Talvez tenham lido as atas de acusação dos processos na União Soviética contra os trotskistas. Se vocês ainda não leram, aconselho vocês a ler junto com seus amigos. É uma leitura muito útil. Ajudará vocês a ver a verdadeira face repugnante do trotskismo e dos trotskistas. Aqui, deixem-me extrair algumas passagens relacionadas diretamente a China. O verdadeiro rosto repugnante do trotskismo.

Frente ao tribunal, o trotskista Rakovsky(2) confessou que em 1934, quando estava em Tóquio (como representante da Cruz Vermelha soviética) um alto personagem do governo japonês lhe havia dito: “Temos o direito de esperar dos trotskistas uma mudança de estratégia. Não quero entrar em detalhes. Só que eu queria dizer que esperamos da parte dos trotskistas, ações que favoreçam nossa intervenção nos assuntos da China’’. Respondendo a este japonês, Rakovsky dizia: “Vou escrever a Trotsky a respeito disso’’. Em dezembro de 1935, Trotsky enviou aos seus partidários na China, instruções em que enfatizava várias vezes esta frase: “Não criar obstáculos à invasão japonesa na China’’. E como vem atuando os trotskistas da China? Estão com pressa de saber, não é? Mas, amados camaradas, não poderei responder vocês mais que em minha próxima carta. Vocês não me recomendaram escrever cartas curtas? Espero vê-los em breve.

Notas:
(1) Revolução Proletária: jornal que publicava um grupo de sindicalistas franceses.
(2) Líder revolucionário nos Bálcãs antes da Primeira Guerra Mundial, primeiro ministro ucraniano desde 1919 até 1923, foi então embaixador soviético em Paris e um dos fundadores da “Oposição de Esquerda’’. Expulso do PCUS em 1927, continuou com sua tarefa até capitular em 1934.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Eliminar Resolutamente do Partido Toda Ideologia Não Proletária*

Por Zhou Enlai

11 de Novembro de 1928

(Traduzido por I.G.D.)

Camaradas, é certo que muitas das ideias incorretas a respeito da linha política do Partido são reflexo das circunstâncias objetivas, mas não é menos que uma das causas mais importantes de sua existência consiste em que as organizações do Partido não se bolchevizaram ainda, e que são advertidas no Partido numerosas manifestações da ideologia não proletária. Como o Partido Comunista da China foi fundado depois do Movimento de 4 de Maio(1), em um momento em que não existia nenhum outro partido político revolucionário, sendo o Kuomintang simplesmente um bloco de burocratas e politiqueiros, entraram em nosso Partido numerosos elementos radicais da pequena burguesia, mesmo elementos burgueses. E sobre todo o período da cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista, ingressaram nas fileiras deste último uma grande massa de elementos pequeno burgueses. Em consequência, nada mais para alterar a situação da revolução, muitos membros do Partido vacilaram e tomaram uma atitude passiva, traíram abertamente o Partido entregando-se ao inimigo e vendendo aqueles que haviam sido seus camaradas. Após a Reunião de 7 de Agosto(2) se formulou o lema de “renovar o Partido”, sob a qual foram expulsos do Partido decididamente todos os elementos vacilantes e reestruturaram os órgãos dirigentes, o que permitiu reforçar, de forma paulatina, a posição da ideologia proletária no seio do Partido. Mas, até hoje, as organizações do Partido carecem de uma sólida base proletária e se advertem nelas ainda muitas manifestações da ideologia pequeno burguesa. Particularmente, devido a que, na composição de classe do Partido, os militantes de origem camponesa representam pelo menos 75%, é oferecido um terreno adubado para uma ampla difusão da ideologia pequeno burguesa. Com a finalidade de realizar a bolchevização do Partido, é necessário, antes de tudo, fortalecer sua base proletária e, ao mesmo tempo, continuar renovando suas organizações e combater com maior firmeza a ideologia pequeno burguesa.  Por conseguinte, logo depois de examinar nossa linha política, devemos fazer uma minuciosa revisão dos erros relacionados com os conceitos de organização.
Primeiro, tendência ao ultrademocratismo. Antes, no organizativo existia uma forma de “patriarcalismo” caracterizada pela obediência mecânica dos militantes de nossas fileiras às ordens ditadas pelos organismos dirigentes do Partido e das organizações inferiores às superiores, e pela ausência de toda vivacidade no interior do Partido. Agora, como chegou o momento de renovação do Partido, muitos lugares passaram para o ultrademocratismo. Há membros do Partido que se permitem não cumprir com as decisões deste. As células do Partido não tomam qualquer atitude em exigir explicações aos órgãos superiores do Partido quando estes emitem tal ou qual circular sem submetê-la previamente para a sua aprovação. Há, além disso, militantes que acham que tem o direito de atuar em livre arbítrio, sem qualquer autorização do Partido. Tais ideias ultraliberais pequeno burguesas podem significar a desintegração da organização do Partido e mesmo sua destruição total. Deixa-se sentir também um conceito incorreto do que é igualdade. Por exemplo, no que se refere aos gastos financeiros, se exige uma distribuição rigidamente igualitária sem ter em conta as circunstâncias e a distinta importância do trabalho. Isso reflete ainda mais nitidamente a ideia de propriedade igualitária, própria da mentalidade camponesa, ideia que devemos eliminar com singular rigor.
Segundo, má compreensão da luta contra o oportunismo. Lutar contra o oportunismo supõe principalmente eliminar as linhas oportunistas tanto no campo político como no organizativo, mas alguns camaradas tendem a lançar ataques pessoais, afrouxando assim a crítica das concepções oportunistas. Como se o oportunismo pudesse ser eliminado apenas levando abaixo a uns poucos indivíduos. Ignoram que o oportunismo tem raízes muito profundas e que não será erradicado através da expulsão de alguns indivíduos. Claro, o Partido não tem outra alternativa a não ser expulsar todos aqueles elementos incorrigíveis com sistemáticas ideias oportunistas, pois apenas assim pode fortalecer-se a si mesmo. Mas, depois de tudo, o principal reside em criticar todas as concepções oportunistas e assegurar que todos os camaradas do Partido tenham uma clara compreensão a respeito. Só então é possível canalizar a linha política do Partido pelo caminho correto. Em quanto a prática de aproveitar-se de algum defeito de outro para exagerá-lo por simples rancor pessoal, é sem dúvidas uma politicagem, algo absolutamente incompatível com um partido proletário.
Terceiro, querelas pessoais. A luta contra o oportunismo e o putchismo é, antes de tudo, sumamente importante no campo político, mas uma vez que a luta política se volta exclusivamente contra um ou outro, surgem certamente disputas pessoais inacabadas. Atacar outra pessoa, ou rejeitar uma crítica por parte dela, ou especular sobre suas razões somente por conta de rixas pessoais, sem examinar seu trabalho e suas posições do ponto de vista do Partido, criarão uma interminável rixa dentro deste, e isto é uma das piores manifestações da ideologia pequeno burguesa.
Quarto, tendência de fracionismo. No presente momento, as numerosas manifestações de fracionismo no Partido são produto de “amiguismo” ou fidelidades de clã. Uns poucos indivíduos com pretensões de chefia e desejosos de altas posições pessoais abraçam o fracionismo para atacar a outros de cargo igual ou superior; daí o transbordamento de toda classe de práticas desprezíveis e sujas, típicas de politiqueiros e burocratas burgueses. Esta é a mais repugnante tendência que minava o Partido.
Quinto, distanciamento entre trabalhadores e intelectuais. É extremamente errôneo converter a luta contra o oportunismo em uma batalha contra os intelectuais. É certo que destes muitos se mostram vacilantes, mas são também numerosos os que combatem desde a posição do proletariado, enquanto que entre o proletariado existe também um bom número de sujeitos que encontram-se distantes da ideologia proletária e encontram-se infectados pela ideologia pequeno burguesa. Muitos camaradas, ignorantes disto, deixam de lado a luta contra a ideologia pequeno burguesa para lançar ataques exclusivamente contra os indivíduos de origem pequeno burguesa, criando assim um distanciamento entre os trabalhadores e os intelectuais e incrementando as disputas dentro do Partido. Isso reflete também a ideologia essencialmente pequeno burguesa.
Sexto, ceticismo sobre a linha de renovação do Partido. Se adverte com pouco entusiasmo por admitir novos ativistas, especialmente os que provém da classe operária. Persistem velhos conceitos de organização que mantém o Partido sempre sob uma forma de “patriarcalismo” de ordem e nomeação. Na designação de tarefas, se confia unicamente em umas poucas pessoas com quem um está pessoalmente familiarizado e não nos novos ativistas que surgiram da base, especialmente os camaradas operários. Isto conduzirá a uma crescente degeneração do organismo do Partido, a sua carência perene de vitalidade e a sua perpétua impotência para acabar com toda ideologia pequeno burguesa.
Sétimo, formalismo na renovação do Partido. A admissão de operários e camponeses é um método importante para a renovação do Partido. Mas, ao aplicá-lo, muitos organismos do Partido incorrem no formalismo. Se contentam com incorporar mecanicamente uma porcentagem de operários nos órgãos dirigentes. Por acaso isso não resulta em que as coisas sigam sendo monopolizadas pelas mesmas pessoas de antes, ou seja, os intelectuais? Mesmo que tenham ocorridos casos tão absurdos como os de ditadura do secretário em chefia. Este modo de admitir operários e camponeses não possui qualquer sentido.
Oitavo, mentalidade mercenária para a revolução. O partido necessita apenas de um pequeno número de revolucionários profissionais em função de seus assuntos cotidianos. E os membros do Partido que trabalham entre as massas devem prestar serviços ao Partido sem abandonar suas atividades na sociedade, e só assim poderão adentrar-se nas massas. Entretanto, alguns camaradas mantém uma mentalidade mercenária para com o trabalho. Exigem um pagamento pelo trabalho que efetuam, e não fazem nada se não lhes pagam. Existem quadros de células que também pedem subsídios em busca de uma igual partilha de lucros. Isto é um gravíssimo erro.
Nono, atitude de tomar o Partido como se fosse uma instituição de beneficência. Muitos camaradas encontrando-se na miséria por estarem desempregados e não tem a quem recorrer, apelam ao Partido para que este lhes solucione seus problemas de subsistência. Não compreendem que o Partido não é uma instituição de beneficência e que seu trabalho se realiza principalmente entre as massas e não em seus organismos dirigentes. É absolutamente impossível que cada um tenha atribuído um trabalho nesses organismos. E o que é mais, se os camaradas que não estão em atividade na sociedade não fazem esforços para encontrá-la, ao mesmo tempo em que outros vão abandonando a sua, o Partido se encontrará separado das massas e, em tal caso, como poderá organizar e dirigir estas?
Décimo, passividade no trabalho. Muitos camaradas vacilam em suas convicções, e quando não encontram saída no âmbito político, ou veem disputas no seio do Partido causadas por conflitos pessoais, ou tropeçam com dissensões criadas por fracionistas com sua prática politiqueira, se decepcionam e não querem trabalhar ativamente. Isso é, de qualquer forma, um tipo de pessimismo pequeno burguês. Na realidade, a revolução se desenvolve a cada dia que passa. Sempre que nos adentramos nas massas para compreender seus sentimentos, saberemos nos orientar por um caminho positivo. Em relação ao nosso Partido, que é já um partido com caráter de massas, com tal que todos os camaradas estejam unidos em uma luta resoluta, será absolutamente impossível que um punhado de canalhas obtenham êxito em soterrar nossa organização. A passividade constitui nada mais do que uma tendência à degeneração.
Camaradas, a mencionada ideologia pequeno burguesa prejudica efetivamente, a cada instante, a organização do Partido e entrava seu trabalho. Todos os camaradas devem levar a cabo decididamente uma luta pela sua completa eliminação de nossas fileiras.
Por conta do VI Congresso Nacional do Partido(3), o Comitê Central aplicará com firmeza as resoluções do Congresso, continuará combatendo energicamente as tendências erradas tais como o oportunismo e o putchismo e, também, se esforçará para erradicar do Partido todas as manifestações da ideologia pequeno burguesa. No que se refere as disputas no seio do Partido, o Comitê Central se opõe ao método conciliatório de remendos e paliativos e se propõe eliminar decididamente toda ideologia não proletária. Só assim se pode assegurar a unidade de todos os camaradas do Partido na luta conjunta dentro do espírito bolchevique.
Camaradas, o Comitê Central está decidido a continuar renovando a organização do Partido. Combaterá sem misericórdia a tendência de certos camaradas a entregarem-se a disputas pessoais, seja longa ou curta sua militância e bom ou ruim o trabalho que tem realizado. Não permitirá em absoluto que subsista em nosso Partido proletário a mais mínima manifestação da ideologia pequeno burguesa. O Comitê Central exige que todos os camaradas do Partido tomem para si esta tarefa, lutem unidos e levem a cabo a bolchevização do Partido.
O Comitê Central destaca os seguintes pontos como linha de conduta para todos os camaradas do Partido em sua luta unida.
Primeiro, fortalecer a base proletária do Partido. O fortalecimento da ideologia proletária no Partido pressupõe, antes de tudo, expandir sua base organizativa proletária. Na atualidade, o caminho principal que conduzirá a bolchevização do Partido passa a adentrar-se nos trabalhadores industriais, estabelecer células bem fortes nas fábricas, aumentar a porcentagem de operários na militância, reforçar preferentemente as organizações do Partido nas zonas industriais de todo o país e dar um novo vigor ao Partido.
Segundo, fomentar discussões políticas no seio do Partido e elevar seu nível político. Os organismos dirigentes do Partido em diversos níveis devem efetuar, na medida do possível, discussões sobre todas as questões políticas do Partido e encorajar os camaradas a expressar plenamente suas opiniões sobre os temas políticos. Ao mesmo tempo, devemos intensificar a educação política no Partido e elevar seu nível teórico. Este é um meio positivo e correto para eliminar a ideologia pequeno burguesa.
Terceiro, ajudar os membros do Partido a buscar um emprego. Os camaradas desempregados devem encontrar um emprego em todos os meios que forem possíveis. Os organismos dirigentes do Partido devem ajuda-los neste sentido. Os que não possuem qualquer habilidade profissional devem aprender e esforçarem-se em particular para entrarem em fábricas como operários. Os camaradas devem ajudar-se mutuamente para encontrar postos de trabalho. Devemos fazer com que os membros do Partido não dependam deste para sua subsistência, que sejam capazes de adentrar-se nas massas e estender a influência do Partido entre elas e que, ao mesmo tempo, possam transmitir suas opiniões ao Partido de forma correta para que este seja um autêntico partido de massas.
Quarto, melhorar a vida na célula. Somente as células do Partido estão em condições de penetrar no seio das massas para efetuar a agitação e propaganda políticas e organizar estas. Somente elas podem dirigir de forma flexível as lutas diárias. Se os organismos superiores do Partido se limitam a elaborar uns planos abstratos e expedir alguns documentos de propaganda sem que as células do Partido cumpram o papel que lhes correspondem, então o Partido nunca entrará em contato com as massas. Por vida em uma célula não se entende simplesmente realizar reuniões, escutar discursos políticos, pagar cotas para o Partido e só. O mais importante é a discussão dos problemas políticos e o trabalho de localidade em questão. Trata-se de uma fábrica, um centro docente, um quartel militar, uma aldeia ou um bairro, cada lugar, por pequeno que seja, possui circunstâncias políticas que lhes são próprias e requerem métodos de trabalho que lhes correspondam. Devemos conhecer antes as circunstâncias reais se queremos aplicar corretamente as políticas do Partido. Esta é uma tarefa que envolve todas as células e todos os camaradas. Cumpri-la totalmente é uma condição indispensável para que as células se edifiquem no núcleo das massas e para que cada militante do Partido, seja o dirigente destas.


Notas:
* - Parte IV da “Carta a todos os camaradas” emitida pelo Comitê Central do PCCh com o propósito de levar a cabo as resoluções do VI Congresso Nacional do Partido. Esta parte foi redigida pelo camarada Zhou Enlai, então chefe do Departamento de Organização do CC do PCCh.

(1) – Em 1919, a Inglaterra, Estados Unidos, França, Japão, Itália e outros países vencedores na Primeira Guerra Mundial realizaram em Paris a Conferência de Paz com a Alemanha, da qual chegaram a um acordo de que deveria ser entregue ao Japão, todos os privilégios coloniais que a Alemanha havia arrebatado na província de Shandong da China antes da Guerra. A delegação enviada pelo governo dos caudilhos militares da China para a Conferência estava disposta a aceitar esta decisão. Em 4 de Maio, os estudantes de Pequim realizaram manifestações contra a injusta decisão do imperialismo e a conciliação do governo dos caudilhos militares. Este movimento estudantil encontrou espaço imediato em todo o povo chinês. Depois de 3 de Junho, se converteu em um movimento massivo anti-imperialista e antifeudal de amplitude nacional, que envolveu o proletariado, a pequena burguesia urbana e também, a burguesia nacional.

(2) – Reunião de emergência do Comitê Central do PCCh realizada em 7 de Agosto de 1927 em Hankou, com a presença de 21 pessoas, entre elas membros do Comitê Central e do Comitê de Controle. Na reunião, Qu Qiubai apresentou um informe intitulado “Orientação de Nosso Trabalho Futuro”. A reunião aprovou uma Carta a Todos os Militantes do Partido e resoluções sobre o movimento camponês, o movimento operário e o trabalho organizativo, e elegeu uma nova direção central. Em um momento crítico para a revolução chinesa, a reunião foi encerrada de forma resoluta ao capitulacionismo de Chen Duxiu, traçou a orientação geral da revolução agrária e luta armada contra a política genocida levada a cabo pelos reacionários do Kuomintang, e chamou o Partido e as massas populares a persistirem firmemente na luta revolucionária. Tudo isso foi correto e constituiu seu aspecto principal. Entretanto, ao combater a tendência direitista, o capitulacionismo, a reunião não compreendeu a necessidade de organizar contra-ataques acertados ou retiradas táticas indispensáveis segundo às circunstâncias dos diversos lugares e deu origem no organizativo a uma luta sectária excessiva no seio do Partido, abrindo caminho para o desvio de “esquerda”.

(3) – De 18 de Junho a 10 de Julho, o Partido Comunista realizou em Moscou seu VI Congresso Nacional. Neste Congresso, Qu Qiubai passou um informe intitulado “A revolução chinesa e o Partido Comunista”; Zhou Enlai fez um informe sobre o problema organizativo e outro sobre o militar, e Liu Bocheng apresentou um informe suplementar sobre o problema militar. Foram aprovados uma série de resoluções sobre os problemas político, militar e organizativo. O Congresso reafirmou que a sociedade chinesa era uma sociedade semicolonial e semifeudal e estabeleceu que a revolução chinesa daquela de então, seguia sendo uma revolução democrática e burguesa. Apontou que a situação política se encontrava então em um intervalo entre dois auges da revolução e que o desenvolvimento da revolução era desigual em zonas distintas. Destacou que a tarefa geral do Partido naquele momento não era lançar ataques nem organizar insurreições, mas conquistar as massas. Ao criticar o oportunismo de direita, destacou com uma ênfase particular que a tendência mais perigosa daquele período dentro do Partido era o putchismo, o aventureirismo militar e o autoritarismo, que nos divorciava das massas. No essencial, o Congresso teve resultados positivos, mas também demonstrou certos erros e defeitos. Não fez uma apreciação correta a respeito do duplo caráter das classes médias e as contradições internas das forças reacionárias, nem soube traçar políticas acertadas para com estas classes e forças. Tampouco compreendeu devidamente a necessidade que o Partido tinha de efetuar uma retirada tática bem ordenada após o fracasso da Grande Revolução, nem teve uma clara ideia da importância das bases de apoio rurais e o caráter prolongado da revolução democrática.