sexta-feira, 19 de junho de 2015

O Prêmio Nobel da Paz e Liu Xiaobo

Por Deidre Griswold (publicado no dia 23/11/2010)

(Traduzido do inglês por I.G.D. para o blog Socialismo na Ásia)

(Retirado de: http://www.workers.org)


Liu Xiaobo: defende abertamente a derrubada do PCCh
Quem é Liu Xiaobo e por que foi dado a ele o Prêmio Nobel da Paz deste ano? Para entender isso, é necessário conhecer a história do prêmio e como ele surgiu.
Alfred Nobel foi um químico sueco, engenheiro e inventor da dinamite, do qual fez uma fortuna no século XIX, ficando conhecido como ‘’O Comerciante da Morte.’’ Ele quis que sua grande fortuna fosse usada para criar inúmeros prêmios, um deles para a paz.
Nobel decretou que um comitê de cinco pessoas instituído pelo Parlamento Norueguês deve escolher os destinatários do prêmio anual da paz. Noruega, membro fundador da OTAN, hoje abriga várias bases aéreas dos Estados Unidos e tem tropas no Afeganistão.
O primeiro Prêmio Nobel da Paz foi premiado em 1901. Desde aquela época, as pessoas do mundo tem sofrido de guerras massacrantes que juntas mataram mais de 100 milhões de civis e combatentes e que devastaram países inteiros. A causa subjacente dessas guerras e a elevação dos complexos industrial-militares tem sido o apetite voraz das potências imperialistas que estão competindo para conquistar novos mercados e territórios para superexploração e lucros.
Então, naturalmente, as pessoas do mundo querem a paz. Elas saem às ruas para fazer vários e vários protestos contra as atuais guerras e as novas armas de terror. O que fazem os imperialistas em relação a isso? Os imperialistas falam de paz e democracia enquanto preparam as buchas de canhão e o dinheiro necessário para novas guerras.
Nada ilustra melhor essa corrupção do anseio popular para a paz do que o anual Prêmio Nobel da Paz. O prêmio foi dado muitas vezes para os próprios indivíduos responsáveis pelos horrores das guerras imperialistas.
Em 1906 o prêmio foi dado ao presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt. Seu slogan ‘’fale com suavidade e tenha à mão um grande porrete’’ fez sua carreira como líder dos Rough Riders, que invadiram Cuba em 1898 durante a Guerra hispano-americana. A guerra era supostamente para libertar Cuba, Porto Rico e as Filipinas da dominação espanhola, mas o seu real propósito era trazê-los para a dominação imperialista dos EUA – como foi exposto por Mark Twain, um membro da Liga Anti-imperialista da época.
Em 1912 o prêmio foi para Elihu Root, que havia sido secretário de guerra dos presidentes William McKinley e Theodore Roosevelt. Root estabeleceu governos neocoloniais nos três países mencionados anteriormente. Ele então torna-se presidente da Carnegie Endowment for International Peace, criada com o dinheiro de um dos mais ricos robber baron** e fura-greves da época, Andrew Carnegie.
Em 1919 o Prêmio da Paz foi para o presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson, que levou os EUA para a Primeira Guerra Mundial em 1917 mesmo com uma grande oposição. No mesmo ano, um estadunidense socialista e líder da classe trabalhadora, Eugene V. Debs, foi sentenciado em 10 anos de prisão sob a Lei de Sedição por ter-se oposto a guerra. Debs concorreu para presidente de dentro de sua cela em 1920 e teve quase um milhão de votos, mas o comitê do Nobel não iria pensar em dar-lhe o Prêmio da Paz.
Nos anos que se seguiram, o prêmio foi para luminares da diplomacia imperialista estadunidense como Cordell Hull (secretário de Estado durante a Segunda Guerra Mundial), o general George Marshall (chefe do exército de gabinete na Segunda Guerra Mundial; secretário de defesa na Guerra da Coreia), Henry Kissinger (secretário de Estado durante a Guerra do Vietnam), presidente Jimmy Carter e, no ano passado (2009), o presidente Barack Obama, cuja promessa de eleição de retirar as tropas estadunidenses do Afeganistão foi abandonada.
Quando, enfrentando críticas por ignorar os movimentos de massa contra a guerra e a violência da classe dominante, o comitê do Nobel reconheceu figuras populares, estas quase sempre acopladas com inimigos do povo. Assim, o prêmio foi dado conjuntamente para Kissinger e o líder vietnamita Le Duc Tho em 1973 (Tho o recusou!); o líder do Congresso Nacional Africano Nelson Mandela e o Presidente da África do Sul do apartheid Frederik Willem de Klerk, em 1993; e para o líder palestino Yasser Arafat, mas também para os israelenses Shimon Peres e Yitzhak Rabin em 1994.
Uma vez que a Guerra Fria começou, o Prêmio da Paz foi dado a figuras na União Soviética e na Europa Oriental, que facilitaram o retorno do capitalismo e do imperialismo: Andrei Sakharov (1975), Lech Walesa (1983) e Mikhail Gorbachev (1990).
É nessa tradição que o Prêmio Nobel da Paz de 2010 foi dado a Liu Xiaobo. Não é porque Liu é de algum modo um homem de paz. Na verdade, ele foi um ferrenho defensor das guerras estadunidenses.
Defendendo George W. Bush e a Guerra no Iraque, Liu escreveu em 31 de outubro de 2004, em ‘’A Guerra do Iraque e a eleição dos Estados Unidos’’ que os EUA ‘’liderou a luta contra o totalitarismo comunista no Vietnam e na Coreia, [...] ajudou o Egito a alcançar a independência, e tem sempre protegido Israel, rodeado como é por nações árabes.’’
Dizendo que John Kerry, que concorreu contra Bush nas eleições daquele ano, tolerou ‘’governos malvados’’, Liu acrescentou: ‘’Em resposta a ameaças existenciais para a civilização, como o terrorismo, os EUA não devem hesitar em usar a força. Apenas uma firme determinação irá impedir outro 11/09, reduzir o terrorismo internacional e reduzir a ameaça de armas de destruição em massa (de chinastudygroup.net).’’
Como poderia o comitê do Nobel sequer pensar em dar o Prêmio da Paz para Liu, depois de tudo que se conhece sobre a administração Bush que deliberadamente enganou o mundo sobre as ‘’armas de destruição em massa’’, a fim de invadir o Iraque?
Pelas mesmas razões que eles escolheram Sakharov, Walesa e Gorbachev. Liu é um dos principais defensores da derrubada do Partido Comunista da China, da privatização de toda a economia, incluindo toda a terra, e do retorno da China para os braços dos imperialistas ocidentais, que olham para ele como um dos maiores libertadores da humanidade.
Liu é o principal autor da Carta 08, que declara abertamente os seus objetivos contrarrevolucionários, ao mesmo tempo que as embeleza na linguagem da ‘’democracia’’ e dos ‘’direitos humanos’’ usado tão enganosamente por sanguessugas capitalistas do ocidente.
Liu não é popular na China. Mesmo aqueles na esquerda que criticam a confiança do governo no mercado não querem nada com ele, reconhecendo-o como um inimigo dos trabalhadores e da soberania duramente conquistada da China. Ele é sem dúvidas uma criatura do imperialismo – e de uma organização completamente antidemocrática que deve seu prestígio e poder ao dinheiro vindo do sangue.

Nota do tradutor:
** :  ‘’Robber baron’’ são plutocratas sem escrúpulos, normalmente um capitalista estadunidense que adquiriu uma fortuna no final do século XIX por meios cruéis.

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