Por Deidre
Griswold (publicado no dia 23/11/2010)
(Traduzido do
inglês por I.G.D. para o blog Socialismo na Ásia)
(Retirado de:
http://www.workers.org)
Liu Xiaobo: defende abertamente a derrubada do PCCh |
Quem é Liu
Xiaobo e por que foi dado a ele o Prêmio Nobel da Paz deste ano? Para entender
isso, é necessário conhecer a história do prêmio e como ele surgiu.
Alfred Nobel
foi um químico sueco, engenheiro e inventor da dinamite, do qual fez uma
fortuna no século XIX, ficando conhecido como ‘’O Comerciante da Morte.’’ Ele
quis que sua grande fortuna fosse usada para criar inúmeros prêmios, um deles
para a paz.
Nobel
decretou que um comitê de cinco pessoas instituído pelo Parlamento Norueguês
deve escolher os destinatários do prêmio anual da paz. Noruega, membro fundador
da OTAN, hoje abriga várias bases aéreas dos Estados Unidos e tem tropas no
Afeganistão.
O primeiro
Prêmio Nobel da Paz foi premiado em 1901. Desde aquela época, as pessoas do
mundo tem sofrido de guerras massacrantes que juntas mataram mais de 100
milhões de civis e combatentes e que devastaram países inteiros. A causa
subjacente dessas guerras e a elevação dos complexos industrial-militares tem
sido o apetite voraz das potências imperialistas que estão competindo para
conquistar novos mercados e territórios para superexploração e lucros.
Então,
naturalmente, as pessoas do mundo querem a paz. Elas saem às ruas para fazer
vários e vários protestos contra as atuais guerras e as novas armas de terror.
O que fazem os imperialistas em relação a isso? Os imperialistas falam de paz e
democracia enquanto preparam as buchas de canhão e o dinheiro necessário para
novas guerras.
Nada ilustra
melhor essa corrupção do anseio popular para a paz do que o anual Prêmio Nobel
da Paz. O prêmio foi dado muitas vezes para os próprios indivíduos responsáveis
pelos horrores das guerras imperialistas.
Em 1906 o
prêmio foi dado ao presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt. Seu slogan
‘’fale com suavidade e tenha à mão um grande porrete’’ fez sua carreira como
líder dos Rough Riders, que invadiram Cuba em 1898 durante a Guerra
hispano-americana. A guerra era supostamente para libertar Cuba, Porto Rico e
as Filipinas da dominação espanhola, mas o seu real propósito era trazê-los
para a dominação imperialista dos EUA – como foi exposto por Mark Twain, um membro
da Liga Anti-imperialista da época.
Em 1912 o
prêmio foi para Elihu Root, que havia sido secretário de guerra dos presidentes
William McKinley e Theodore Roosevelt. Root estabeleceu governos neocoloniais
nos três países mencionados anteriormente. Ele então torna-se presidente da Carnegie
Endowment for International Peace, criada com o dinheiro de um dos mais ricos robber
baron** e fura-greves da época, Andrew Carnegie.
Em 1919 o
Prêmio da Paz foi para o presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson, que levou
os EUA para a Primeira Guerra Mundial em 1917 mesmo com uma grande oposição. No
mesmo ano, um estadunidense socialista e líder da classe trabalhadora, Eugene
V. Debs, foi sentenciado em 10 anos de prisão sob a Lei de Sedição por ter-se
oposto a guerra. Debs concorreu para presidente de dentro de sua cela em 1920 e
teve quase um milhão de votos, mas o comitê do Nobel não iria pensar em dar-lhe
o Prêmio da Paz.
Nos anos que
se seguiram, o prêmio foi para luminares da diplomacia imperialista
estadunidense como Cordell Hull (secretário de Estado durante a Segunda Guerra
Mundial), o general George Marshall (chefe do exército de gabinete na Segunda
Guerra Mundial; secretário de defesa na Guerra da Coreia), Henry Kissinger
(secretário de Estado durante a Guerra do Vietnam), presidente Jimmy Carter e,
no ano passado (2009), o presidente Barack Obama, cuja promessa de eleição de
retirar as tropas estadunidenses do Afeganistão foi abandonada.
Quando,
enfrentando críticas por ignorar os movimentos de massa contra a guerra e a
violência da classe dominante, o comitê do Nobel reconheceu figuras populares, estas
quase sempre acopladas com inimigos do povo. Assim, o prêmio foi dado
conjuntamente para Kissinger e o líder vietnamita Le Duc Tho em 1973 (Tho o
recusou!); o líder do Congresso Nacional Africano Nelson Mandela e o Presidente
da África do Sul do apartheid Frederik Willem de Klerk, em 1993; e para o líder
palestino Yasser Arafat, mas também para os israelenses Shimon Peres e Yitzhak
Rabin em 1994.
Uma vez que a
Guerra Fria começou, o Prêmio da Paz foi dado a figuras na União Soviética e na
Europa Oriental, que facilitaram o retorno do capitalismo e do imperialismo:
Andrei Sakharov (1975), Lech Walesa (1983) e Mikhail Gorbachev (1990).
É nessa
tradição que o Prêmio Nobel da Paz de 2010 foi dado a Liu Xiaobo. Não é porque
Liu é de algum modo um homem de paz. Na verdade, ele foi um ferrenho defensor
das guerras estadunidenses.
Defendendo
George W. Bush e a Guerra no Iraque, Liu escreveu em 31 de outubro de 2004, em ‘’A
Guerra do Iraque e a eleição dos Estados Unidos’’ que os EUA ‘’liderou a luta
contra o totalitarismo comunista no Vietnam e na Coreia, [...] ajudou o Egito a
alcançar a independência, e tem sempre protegido Israel, rodeado como é por
nações árabes.’’
Dizendo que
John Kerry, que concorreu contra Bush nas eleições daquele ano, tolerou ‘’governos
malvados’’, Liu acrescentou: ‘’Em resposta a ameaças existenciais para a
civilização, como o terrorismo, os EUA não devem hesitar em usar a força. Apenas
uma firme determinação irá impedir outro 11/09, reduzir o terrorismo
internacional e reduzir a ameaça de armas de destruição em massa (de chinastudygroup.net).’’
Como poderia
o comitê do Nobel sequer pensar em dar o Prêmio da Paz para Liu, depois de tudo
que se conhece sobre a administração Bush que deliberadamente enganou o mundo
sobre as ‘’armas de destruição em massa’’, a fim de invadir o Iraque?
Pelas mesmas
razões que eles escolheram Sakharov, Walesa e Gorbachev. Liu é um dos
principais defensores da derrubada do Partido Comunista da China, da
privatização de toda a economia, incluindo toda a terra, e do retorno da China
para os braços dos imperialistas ocidentais, que olham para ele como um dos
maiores libertadores da humanidade.
Liu é o
principal autor da Carta 08, que declara abertamente os seus objetivos
contrarrevolucionários, ao mesmo tempo que as embeleza na linguagem da ‘’democracia’’
e dos ‘’direitos humanos’’ usado tão enganosamente por sanguessugas capitalistas
do ocidente.
Liu não é
popular na China. Mesmo aqueles na esquerda que criticam a confiança do governo
no mercado não querem nada com ele, reconhecendo-o como um inimigo dos
trabalhadores e da soberania duramente conquistada da China. Ele é sem dúvidas
uma criatura do imperialismo – e de uma organização completamente
antidemocrática que deve seu prestígio e poder ao dinheiro vindo do sangue.
Nota do tradutor:
** : ‘’Robber baron’’ são plutocratas sem
escrúpulos, normalmente um capitalista estadunidense que adquiriu uma fortuna
no final do século XIX por meios cruéis.
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