sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

China-RPDC: Firme aliança contra a Agressão Imperialista

Publicado pelo Editorial do Renmin Rinbao, Hongqi e Jiefangjun Bao
16 de julho de 1971

Traduzido por Gabriel Duccini

Junto do fraternal povo coreano, o povo chinês solenemente celebra hoje o décimo aniversário da assinatura do Tratado Sino-Coreano de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua em uma situação em que a luta contra o Imperialismo ianque e o militarismo japonês por parte dos povos de vários países asiáticos está se moldando diariamente. O Partido coreano e a Delegação do Governo com o camarada Kim Jung Rin, Membro da Comissão Política do Comitê Central e Secretário do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia à sua frente; e o camarada Kim Man Gum, Membro suplente do Comitê Político do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia e vice-primeiro-ministro do Conselho de Ministros como seu Vice chefe, chegou ao nosso país para participar das celebrações. O povo chinês calorosamente dá boas-vindas à delegação.
Dez anos atrás quando eles se depararam com a situação onde o Imperialismo ianque e seus lacaios estavam fervorosamente levando a cabo atividades agressoras e de guerra na Ásia, a China e a Coreia assinaram o histórico Tratado Sino-Coreano de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua. O tratado solenemente estipula que “as partes assinantes se comprometem conjuntamente a adotar todas as medidas para evitar a agressão contra qualquer das partes assinantes por qualquer Estado. No caso de uma das partes ser submetida a um ataque armado por algum Estado ou vários Estados conjuntamente, e assim envolvida em um Estado de guerra, a outra parte deve imediatamente prestar ajuda militar e outras formas de auxílio por todos os meios à sua disposição”. Também contém outros artigos importantes no que tange o reforço da amizade fraternal, a assistência mútua e a cooperação entre os dois países. Esse tratado é um enorme marco na história das relações amigáveis entre os dois povos. Ao solidificar a amizade revolucionária e a unidade militante forjada na prolongada e conjunta luta dos povos da China e da Coreia na forma de um tratado, ele encarna plenamente a sua firme determinação a se opor à agressão imperialista, assegurar a segurança comum de ambos os países e garantir a paz na Ásia e no Mundo.
O Presidente Mao, grande líder do povo chinês, apontou: “Os camaradas coreanos e chineses devem se unir como irmãos, passar por bons e maus momentos juntos, compartilhar felicidade e angústia, e lutar até o fim para derrotar o inimigo comum”.
Recapitulando a história das lutas comuns dos povos coreanos e chineses, sentimos profundamente que a amizade revolucionária entre os nossos dois povos é muito testada e incomparavelmente preciosa. Por quase um século, o povo de nossos dois países teve experiências ruins semelhantes e sempre realizou lutas comuns contra a agressão estrangeira. Assim que o militarismo japonês começou sua agressão do final do século XIX até o começo do século XX, a China e a Coreia se tornaram as vítimas imediatas porque ocuparam o território chinês de Taiwan e anexaram a Coreia. Os destinos do povo da China e da Coreia desde então já estão unidos. Durante a ocupação japonesa da Coreia, o povo coreano encenou levantes antijaponeses e um patriota coreano assassinou o chefe militar dos agressores japoneses Hirobumi Ito, dando um golpe ao inimigo comum dos povos de ambos países. Após o Imperialismo Japonês desencadear a guerra de agressão contra a China nos anos 30, os povos chineses e coreanos lutaram ombro a ombro contra os agressores. Junto do povo chinês, as guerrilhas antijaponesas organizadas e lideradas pelo Camarada Kim il Sung, o grande líder do povo coreano, resistiram e derrotaram os agressores japoneses. Nos anos 50 quando os Estados Unidos desataram sua guerra de agressão contra a Coreia e ao mesmo tempo ocuparam a Província chinesa de Taiwan, os povos chineses e coreanos mais uma vez lutaram lado a lado e derrotaram os agressores ianques no campo de batalha coreano. No longo período de luta, muitos camaradas coreanos derramaram seu sangue em apoio à causa revolucionária da China. O povo chinês nunca irá se esquecer do apoio e ajuda que o povo coreano deu a eles.
O Imperialismo ianque agora está intensificando a presença de suas políticas de agressão e guerra na Ásia. Ele continua a ocupar o território chinês de Taiwan e a metade sul da Coreia e persiste na expansão de sua guerra de agressão na Indochina. O Governo Nixon está fazendo o máximo possível para realizar a assim chamada “nova política para a Ásia” ao acelerar sua conivência militar com os reacionários japoneses e ansiosamente fazendo uso do militarismo japonês como uma tropa de choque da agressão imperialista ianque contra a Ásia. Após a extensão automática do “Tratado de Segurança” dos Estados Unidos-Japão, os Estados Unidos e o Japão assinaram o acordo de “reversão” de Okinawa, portanto reforçando a agressiva aliança militar de EUA-Japão. Ademais, o Imperialismo ianque está tentando trazer forças militares japoneses para o Sul da Coreia para fortalecer a operação conjunta EUA-Japão-Pak e inclusive conduziu exercícios militares provocativos conjuntos dos EUA e Japão, no mar a leste da Coreia. Tudo isso é uma séria ameaça à segurança do povo da Coreia, China e outros países asiáticos.
O militarismo japonês, que está sendo revivido sob a égide do imperialismo norte-americano, está fervendo com sua ambição de renovar o seu sonho de anexar a Coréia, invadir a China e dominar a Ásia. Enquanto declaram abertamente que a Coreia é “essencial para a própria segurança do Japão”, não mediram palavras ao afirmar que "se pode supor que as Forças de Autodefesa conduzirão operações em um determinado lugar fora do Japão, e esse lugar será a Coreia”. Os reacionários japoneses já estenderam suas garras de agressão à Coreia do Sul em tentativa de transformá-la em uma colônia dual dos Estados Unidos e do Japão. Ao mesmo tempo, os reacionários japoneses aumentaram sua penetração no território chinês de Taiwan politicamente, militarmente e economicamente, alegando que Taiwan é “um fator de máxima importância para a segurança do Japão”, e conspiraram abertamente em estender a "zona de identificação de defesa aérea" do Japão para o território chinês da Ilha de Tiaoyu e o espaço aéreo perto de áreas costeiras da China. Isso revela plenamente as ambições raivosas do militarismo japonês em colocar as mãos sobre o território da China. Obviamente, o militarismo japonês novamente embarcou no velho caminho da agressão e expansão e se tornou uma perigosa força de guerra na Ásia.
Nas atuais circunstâncias, portanto, é de enorme significância prática consolidar ainda mais e fortalecer a aliança entre a China e Coreia que foi concretizada no tratado.
Precisamente como o Camarada Kim Il Sung, o grande líder do povo coreano, apontou: “Os povos da Ásia e os povos progressistas do mundo hoje são confrontados com a urgente tarefa de lutar contra o renascimento do militarismo japonês ao mesmo tempo que frustrem a agressão do Imperialismo ianque”.
Mudanças profundas vêm ocorrendo na situação atual da Ásia. A República Popular da China está diariamente crescendo cada vez mais forte. A República Popular Democrática da Coreia se tornou um baluarte que permanece firme como uma rocha à frente da luta anti-imperialista na Ásia. A guerra contra a agressão ianque e pela salvação nacional pelos povos dos três países da Indochina fez conquistar grandes vitórias de abalar o mundo. A luta dos povos da China, Coreia, Vietnã, Laos, Camboja, Japão e outros países asiáticos contra os agressores norte-americanos e o renascimento do militarismo japonês a partir dos Estados Unidos e reacionários japoneses está surgindo à frente com um enorme impulso, irresistível. A força revolucionária do povo asiático está mais poderosa do que nunca. Qualquer superpotência ou “potência econômica” que tente passar por cima do povo asiático e fazer girar a roda da história para trás está simplesmente sonhando acordada. Em face da unidade militante dos povos dos países asiáticos, qualquer agressor que se atreva a provocar uma nova guerra na Ásia não encontrará nada com exceção da derrota completa para ele.
A China e Coreia são vizinhos fraternos ligados pelas mesmas montanhas e rios e estreitamente relacionados como a língua é com os dentes, e sua segurança é inseparável. As relações em todo o horizonte de assistência mútua e cooperação entre ambos os países e ambos povos foi consolidada e desenvolvida firmemente à luz dos grandes objetivos estabelecidos no Tratado Sino-Coreano de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua. O povo chinês inflexivelmente apoia a justa luta do povo coreano contra a agressão do Imperialismo ianque e é pela reunificação pacífica de sua pátria. Vamos cumprir fielmente, como no passado, as obrigações estipuladas no Tratado Sino-Coreano de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua e estamos determinados a lutar até o fim contra os inimigos comuns de nossos dois povos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

NEOLIBERALISMO: Um Flagelo para a Humanidade

Escrito por Jose Maria Sison
Presidente da Liga Internacional de Luta dos Povos
(20 de agosto de 2012)


Traduzido por I.G.D.
 
 
Antecedentes e Definição
O termo “neoliberalismo” foi forjado pelo estudioso alemão Alexander Rustow no Colloque Walter Lippmann em 1938. Ludwig von Mises o popularizou como “novo liberalismo” em seus escritos. Os expoentes do neoliberalismo definiram como “a prioridade do mecanismo de preços, a livre iniciativa, o sistema de concorrência e um Estado forte e imparcial. ” Eles pertenciam ao que foram chamados de Escola de Freiburg, Escola Austríaca e Escola de Economia de Chicago.
O conceito de neoliberalismo retira de Adam Smith a noção de que a mão invisível do auto interesse no livre mercado resulta no bem comum, mas, obscurece a ideia dele de que a força de trabalho é a criadora de novos bens materiais e de riqueza social. Ele considera apenas a noção de que a liberdade econômica dos empresários se traduz na liberdade política de toda a sociedade. Ele idealiza e perpetua a ideia do capitalismo de livre concorrência.
Ele mantém como sagrada e inviolável o direito à propriedade privada dos meios de produção e com veemência está contra a propriedade estatal dos meios de produção e contra a intervenção do Estado na economia, a menos que favoreça os capitalistas privados com oportunidades lucrativas, incluindo a expansão da oferta de dinheiro e crédito, redução de impostos, contratos, subsídios, garantias de investimento e outros incentivos.
O conceito surgiu na época da Grande Depressão, quando a crise de superprodução do capitalismo monopolista tinha dado origem ao fascismo e a iminência da Segunda Guerra Mundial. Mas os intelectuais neoliberais ignoraram a realidade do capitalismo monopolista e a luta de classes entre a grande burguesia e o proletariado. Eles tomaram o ponto de vista pequeno-burguês de “estar sobre as classes” e que estariam contra o fascismo e o socialismo, e então passaram a pregar sobre a “liberdade”, com base na condição passada do capitalismo de livre concorrência do século 19.
Friedrich Hayek, bem conhecido pela noção de que o socialismo é “o caminho para a servidão”, fundou a Sociedade Mont Pelerin, em 1947, a fim de reunir intelectuais e políticos neoliberais. Os neoliberais eram um instrumento hiperativo ainda marginal do anticomunismo durante a Guerra Fria. Hayek e Milton Friedman se tornaram figuras icônicas do neoliberalismo na Escola de Economia de Chicago.
Friedman se tornou mais conhecido por ter feito com que o neoliberalismo fosse a política econômica oficial do imperialismo estadunidense. Ele promoveu a noção de que a liberdade econômica é uma condição necessária para a liberdade política e que o Estado não deve possuir ativos produtivos e não deve planejar ou regular a economia, mas deve dar lugar a uma “livre iniciativa” desenfreada e um “livre mercado” que se autorregula, e permitir a grande burguesia acumular capital e aproveitar as oportunidades lucrativas.
Descrevendo a si mesmo como um monetarista, Friedman espalhou a noção de que o crescimento da economia e a resolução dos problemas econômicos de estagnação e de inflação eram apenas uma questão de manipular as taxas de oferta de moeda e de juros. Ele liderou a campanha acadêmica e midiática de ataque ao keynesianismo e de culpar a classe trabalhadora pela inflação de salário e supostamente pelos grandes gastos sociais por parte do governo. Ele e seus colegas neoliberais proclamaram estes como a causa da estagflação na década de 1970.
 
Política Econômica Neoliberal
No início da década de 1980, a política econômica neoliberal foi adotada por Ronald Reagan nos EUA e por Margaret Thatcher no Reino Unido, e se tornou conhecida respectivamente como “Reagonomics” ou economia do lado da oferta e por thatcherismo. Ele usou como bode expiatório a classe operária e os gastos sociais do governo para justificar o fenômeno da estagflação e obscurecer a crise de superprodução, como resultado da reconstrução da Europa Ocidental e do Japão, e o rápido aumento dos gastos militares estadunidenses devido a intensificação da produção militar, do desenvolvimento ultramarino das forças militares dos Estados Unidos e das guerras de agressão na Coréia e na Indochina.
Reagan e Thatcher empreenderam ações sinalizadoras e empurraram a legislação para pressionar para baixo o nível salarial, suprimir os sindicatos e os direitos democráticos da classe trabalhadora e cortar as despesas sociais do governo. Eles reduziram os impostos sobre as corporações e os membros individuais da burguesia monopolista, e forneceram a eles todas as oportunidades para que fizessem superlucros e acumulassem capital.
Estas oportunidades foram disponibilizadas através da flexibilização do trabalho, liberalização comercial e financeira, privatização de bens públicos, da desregulamentação antissocial, da desnacionalização das economias dos países subdesenvolvidos, do aumento dos contratos superfaturados na produção de guerra e garantias e subsídios para investimentos no exterior.
Eventualmente, as outras potências imperialistas seguiram o exemplo dos EUA e do Reino Unido. Mesmo os partidos burgueses trabalhistas, social-democratas e neorrevisionistas adotaram a política econômica neoliberal. Para isto, foi dado o nome fantasioso de globalização do "livre mercado". Mas esta é a globalização imperialista, permitindo que as potências imperialistas desencadeiem suas firmas monopolistas e bancos contra sua própria classe operária e contra todos aqueles que trabalham, especialmente aqueles dos países subdesenvolvidos. Os Estados fantoches traíram seus povos, entregaram a soberania econômica e os seus recursos naturais para as potências imperialistas sob a bandeira da globalização.
A política econômica neoliberal foi instigada pelo imperialismo estadunidense e veio a ser conhecida em 1989 como o Consenso de Washington (forjado pelo economista John Williamson) devido ao longo período em que tinha sido projetada e executada pelo FMI, Banco Mundial e pelo Departamento de Tesouro dos Estados Unidos, para ser unida subsequentemente pela Organização Mundial do Comércio nos anos de 1990. Foi imposta aos países subdesenvolvidos as seguintes prescrições supostamente para o desenvolvimento: a disciplina da política fiscal, o redirecionamento da despesa pública longe do desenvolvimento industrial e da independência, reforma nos impostos em benefício de investidores estrangeiros e às custas das massas populares, taxas de juros determinadas pelo mercado, taxas de câmbio competitivas, liberalização das importações, liberalização dos investimentos, privatização de empresas estatais, a desregulamentação e a segurança jurídica para os direitos de propriedade.
O neoliberalismo, também conhecido como fundamentalismo de mercado, acelerou a acumulação de capital e a obtenção de superlucros pela burguesia monopolista. Como resultado, a crise de superprodução e superacumulação por alguns retornou a um ritmo rápido e pior. A burguesia monopolista recorreu a truques do capitalismo financeiro e gerou uma oligarquia financeira em uma tentativa inútil de anular as crises recorrentes de superprodução e a tendência da taxa de lucro cair. Ela tem expandido repetidamente a oferta de dinheiro e de crédito, gerou derivados em quantidades astronômicas e fez uma bolha financeira após a outra, a fim de aumentar os lucros e supervalorizar os ativos da burguesia monopolista.
No entanto, mais de cem crises econômicas e financeiras de diferentes escalas e gravidades ocorreram no sistema capitalista mundial nas últimas três décadas de política econômica neoliberal. A crise mais severa estourou em 2007. É comparável à Grande Depressão da década de 1930, só que com muito mais destrutivas e concomitantes consequências políticas e sociais para o mundo inteiro. Ela é acompanhada pelo aumento do terrorismo de Estado ou do fascismo e por outras guerras imperialistas de agressão. As grandes massas populares estão sofrendo com as condições terríveis de depressão global e a intensificação da exploração, o empobrecimento, a opressão e todos os tipos de degradação.
 
Resistência Popular
As potências imperialistas e seus Estados fantoches têm sido incapazes de resolver a grande crise em curso, porque eles se apegaram dogmaticamente à política econômica neoliberal. Eles creem que isto é de longe, a melhor política adotada pelo sistema capitalista mundial para manter a burguesia monopolista e a oligarquia financeira nos superlucros e acumular capital. Eles desejam perpetuar esse flagelo para a humanidade. É, portanto, dever e obrigação das massas lutar contra este sistema que impôs esta política nefasta.
A grave crise do sistema está incitando as grandes massas do povo a travar várias formas de resistência, a fim de apoiar, defender e promover os seus direitos democráticos básicos e de lutar por sua libertação nacional e social. Através de sua própria luta, elas podem construir um mundo fundamentalmente novo e melhor, de maior liberdade, democracia, justiça social, desenvolvimento, solidariedade internacional e de paz. Elas apontam para um futuro socialista. 
 
Jose Maria Sison - Fundador do Partido Comunista das Filipinas
 
 
 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A Luta das Mulheres que Enfrentaram uma Multinacional e Venceram


Traduzido por I.G.D.



Este é um relato de uma revolta extraordinária, um movimento de 6.000 trabalhadoras de um grau de educação baixíssimo que enfrentaram uma das empresas mais poderosas do planeta. Em um país dominado pelo machismo, desafiaram o mundo dos sindicatos e partidos políticos, dominados por homens, negando-se a deixar que estes controlassem sua luta. E o mais importante: venceram.
É muito provável que você tenha desfrutado dos ganhos do seu trabalho. Estas mulheres são coletoras de chá no belo Estado de Kerala, no sul da Índia. Trabalham para uma gigantesca companhia de plantações, chamada Kanan Devan Hills Plantations, que em parte é propriedade e em grande medida está controlada pela multinacional indiana Tata, proprietária da Tetley Tea. A faísca que desencadeou o protesto foi uma decisão de anular a bonificação que é paga às coletoras de chá, mas as raízes do conflito são muito mais profundas.

Somente Elas
Os trabalhadores e trabalhadoras do ramo do chá na Índia não recebem um tratamento digno. Quando investiguei o setor em Assam, no mês passado, observei que as condições de vida e de trabalho eram tão ruins, e os salários tão baixos, que as trabalhadoras do chá e suas famílias sofriam de desnutrição e estavam expostas a enfermidades mortais. Parece que a situação em Kerala não é muito diferente. Parte das queixas das mulheres é que estas vivem em cabines de uma só cama, sem banheiro nem quaisquer outros equipamentos básicos, e ainda que ganhem significativamente mais que suas colegas de Assam, dizem que as 230 rupias (equivalente a 3,50 dólares) que recebem de salário é a metade do que ganharia um trabalhador em Kerala.
Quando, em meados de setembro, as mulheres de Kerala reclamaram para que se restabelecesse a bonificação – junto com um aumento do salário e das condições de vida –, não só desafiaram a empresa que as empregam, como também aos sindicatos que supostamente as representam. As trabalhadoras alegam que os líderes sindicais, homens, estão aliados com a direção da empresa, negando as mulheres seus direitos e salvaguardando os melhores postos para eles mesmos.
Quando houve uma queda nos preços do chá há alguns anos e alguns latifundiários abandonaram suas plantações, segundo as mulheres, os líderes sindicais sempre conseguiram manter seus empregos. Também disseram que os sindicatos não fizeram o suficiente para fazer com que seus maridos deixassem de gastar sua renda em bebidas sem garantir a educação de seus filhos, nem atender as necessidades sanitárias de suas famílias. E demonstraram que eram capazes de levar a cabo um protesto efetivo sem ajuda dos sindicatos.

“Mulheres Unidas”
Quando 6.000 mulheres ocuparam a rodovia principal que conduz à sede central da companhia proprietária das plantações, a manifestação foi organizada por elas mesmas, que em sua maioria, não possuíam quaisquer antecedentes de ativismo sindical. Se chamaram a si mesmas de “Pempilai Orumai”, que significa “Mulheres Unidas. Em outra ação, as mulheres ocuparam o Munnar, um dos destinos turísticos mais populares de Kerala. O comércio e o turismo ficaram quase totalmente paralisados. Muitas das palavras de ordem se dirigiam abertamente aos dirigentes sindicais. “Colhemos o chá e levamos os sacos em nossos ombros, enquanto vocês levam as bolsas com o dinheiro”, dizia um cartaz. “Nós vivemos em cabines de estanho, vocês têm bangalôs”, dizia outro.
Quando os dirigentes sindicais, homens, trataram de se unir junto com a manifestação, estes foram expulsos. As mulheres atacaram um ex-dirigente sindical com suas sandálias. O homem teve que ser resgatado pela polícia. Em outro incidente, as manifestantes arrancaram os mastros localizados no exterior do edifício dos sindicatos. E ainda, rechaçavam e perseguiam políticos locais que queriam fotografar-se oferecendo seu apoio. As mulheres insistiram que continuariam com seus protestos até que se vissem satisfeitas de suas demandas.
No princípio, a empresa se mostrou desafiante, mas depois de nove dias de protestos e negociações intensas, supervisadas pelo primeiro-ministro do Estado, a empresa cedeu. Foi uma vitória sensacional: um grupo de mulheres semianalfabetas se enfrentaram com um dos interesses mais poderosos do Estado... e ganharam. As mulheres haviam se engajado nas conversações e forçaram a direção a aceitar sua reivindicação de restabelecer a bonificação de 20%. Enquanto isso, líderes sindicais, todos homens, tiveram que engolir seu orgulho e assinar o acordo negociado pelas mulheres.

Nada a perder
Mas a guerra, apesar de tudo, não havia terminado. A questão do aumento salarial teve de ser negociada separadamente e quando não se satisfez a demanda das mulheres de incrementar os salários, os sindicatos lançaram uma campanha por tempo indeterminado para reivindicar um aumento de 232 rupias para 500 rupias. Em parte, isso tinha como finalidade resgatar a direção sobre o êxito da luta das mulheres. Estas rejeitaram tomar parte de tal prática dos sindicatos e lançaram suas próprias exigências, de modo independente, de um aumento salarial.

Em meados de outubro, alguns ativistas sindicais do sexo masculino, supostamente atacaram uma manifestação de mulheres, a base de pedradas. Seis pessoas foram feridas, mas não gravemente. Mas as mulheres seguem decididas a continuar com a luta. “Não temos nada a perder”, disse Lissy Sunny, uma das dirigentes do “Pempilai Orumai”, em declarações para o site de notícias India Catch. “A fome e o sofrimento fazem parte de nossa vida. Não nos preocupamos, mesmo que morramos de fome. Mas não deixaremos que nada nos explore. Já basta! ”.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

É Preciso Entender a China: Não é Crise - É Política Econômica

Publicado inicialmente pelo: http://br.sputniknews.com/



“O que está acontecendo na China nada mais é  do que o resultado de uma bem planejada  política econômica de Governo, produzindo os efeitos esperados.”

A afirmação é do professor do Insper, Roberto Dumas, mestre em Economia da China pela Universidade de Fundan e em Economia Mundial pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra.

Profundo conhecedor da economia chinesa, o Professor Roberto Dumas garante que os fatos registrados na China na segunda-feira, 4 (desvalorização da moeda nacional, o yuan, e quedas simultâneas nas duas Bolsas de Valores, de Shangai e Shenzhen), só surpreenderam quem não está ciente das decisões das autoridades chinesas.

“O Governo do Presidente Xi Jinping e do Primeiro-Ministro Li Kekiang decidiu que a China, neste momento, deve priorizar o consumo interno para escoar a sua enorme produção. Por isso, o Governo optou pela desvalorização do yuan e pela diminuição das atividades em suas Bolsas – e até mesmo pela redução do crescimento do PIB. Aquela fase do PIB crescendo a dois dígitos acabou. Em 2015, a China cresceu menos de 7%, e não vou me admirar se em 2016 seu crescimento econômico ficar na casa dos 6% a 6,5%. E assim será nos anos subsequentes.”

Ao contrário do que pensam muitos analistas – de que a China vive uma crise –, Roberto Dumas afirma que o que acontece naquele país “é subproduto de uma política pública, do próprio Governo chinês, que quer rebalancear o modelo de crescimento econômico, ou seja, parar de investir para tentar impulsionar cada vez mais o consumo doméstico”.

“Mas o chinês não consome muito? Sim, o chinês consome muito, só que ele produz ‘muito ao quadrado’. Para ele aumentar o consumo doméstico em relação ao PIB, é importante que o PIB cresça menos e o consumo aumente para que eles se encontrem no meio do caminho. Para se ter uma ideia, até 2008 esse excedente de produção geralmente era vendido para os Estados Unidos. Após a crise de 2008, como os EUA não têm mais interesse em comprar todo o excedente chinês, quem virou o 'darling' da China passou a ser o Brasil, ou seja, os chineses tentaram vender o excedente que não mais conseguiam vender para os EUA e passaram a vender tanto para o Brasil como para outros países da América Latina e alguns países da África. Só que não substituímos os EUA, e os chineses perceberam que não adiantava produzirem demais para um mundo que não quer mais tanto consumo, e resolveram produzir menos e consumir mais internamente para conseguir rebalancear a economia.”

O mestre em Economia da China explica:“Esta queda no crescimento da produção industrial chinesa era absolutamente esperada. É isso que o Governo quer: crescer menos para compensar a queda da exportação e aumentar o consumo doméstico. Não existe uma crise no consumo. Para se ter uma ideia, no Brasil o consumo, em relação ao PIB, representa 66%; e na China, 35%. Ou seja, na China eles produzem muito mais do que consomem e precisam de alguém para escoar esse excedente – e o mundo não quer mais esse excedente. Como a população doméstica não consegue consumir tudo que o país produz, vamos produzir menos. Por isso é que isso é um subproduto de uma política pública.”

O Professor Roberto Dumas conclui:
“A China vai continuar trazendo não surpresa, mas notícias negativas ao longo deste ano e do próximo. O crescimento vai ser menor. Aqueles dias em que a China crescia 10%, 11%, 12% absolutamente acabaram, e aí teremos impacto nas economias emergentes como Brasil, Peru, Chile, Colômbia, México, porque esses países basicamente são exportadores de commodities metálicas. Como a China quer investir menos do que investia, a demanda por commodities metálicas – minério de ferro, cobre, ouro, platina – tudo isso vai continuar caindo de preço.”