sábado, 26 de março de 2016

“Naxalbari Zindabad!” quer dizer “A Rebelião se Justifica!”

Publicado pelo blog Revolución en la India



Traduzido por I.G.D



Há 40 anos, a rebelião armada dos camponeses de Naxalbari, uma aldeia no estado de Bengala Ocidental, foi a causa de uma conflagração revolucionária na Índia. Os grilhões seculares da opressão e exploração foram atacados. Os revisionistas apelaram a continuar vivendo obedientemente como escravos, mas foram ignorados com desdém. Os camponeses pobres e pisoteados se atreveram a tomar o poder político e a expropriar os frutos de seu trabalho das mãos dos odiosos latifundiários.
Naxalbari fez sacudir o país inteiro. A fúria reprimida dos mais pobres da sociedade, dos adivasis e dos dalits (tribos e “intocáveis” da sociedade de castas), além de outros camponeses pobres e sem-terra, estalou em forma de bravas tormentas de fúria revolucionária em inúmeros lugares em todo o país. As rajadas de vento de Naxalbari arrancaram décadas de fedor revisionista e incitaram a rebelião, a centenas de quadros, presos em partidos como o P.C.I. e o P.C.M [1]. Em Calcutá e em um número de pequenos centros industriais, grandes grupos de trabalhadores e de gente pobre urbana, romperam com os chefes sindicais. Um grande número se lançou para a batalha, lutando na vanguarda da revolução agrária armada como proletários com consciência de classe. Muitos setores sociais, como profissionais, acadêmicos e outros, se uniram ao festival revolucionário das massas. Naxalbari contagiou toda uma geração de jovens e estudantes, e canalizou a força revolucionária de milhares destes jovens, apreendidos dos ideais comunistas de servir ao povo e de se sacrificar pela causa da revolução.
Apesar de longos períodos de dominação revisionista anteriores a Naxalbari, o movimento comunista na Índia também teve uma inspiradora história de luta revolucionária. Foram notáveis os cinco anos de luta armada de Telengana a fins dos anos 40, da qual conseguiu estabelecer o poder vermelho em centenas de aldeias durante seu apogeu, mas esta logo traiu a direção do P.C.I. Grupos de revolucionários tomaram partido com Mao Tsetung na luta contra o revisionismo soviético. Mas Naxalbari representou um salto. Isto foi porque se tomou a consciência do pensamento Mao Tsetung como uma nova etapa qualitativa do marxismo-leninismo, e sua aplicação as condições da Índia, para iniciar a luta armada revolucionária das massas. Este é o elemento chave e distintivo que lançou Naxalbari a esta etapa. Dirigido por Charu Mazumdar, um grupo de quadros revolucionários na organização do P.C.M. do distrito de Darjeeling, lutou conscientemente pelo aprofundamento da luta contra o revisionismo e o centrismo. Tirando valiosas lições da luta ideológica guiada por Mao Tsetung contra o revisionismo kruschevista, e outras lições da Grande Revolução Cultural Proletária da China, Charu Mazumdar conseguiu romper radicalmente com o revisionismo (incluindo o reconhecimento da então existente União Soviética sob a direção revisionista como um inimigo), e lançou a revolução agrária armada até a tomada do poder político, pouco a pouco, por meio do caminho da Guerra Popular Prolongada. Naxalbari foi uma parte da revolução proletária mundial: aproveitou a luta revolucionária em outros países na região, e recebeu o apoio entusiasta do Partido Comunista da China e do proletariado revolucionário de todo o mundo.
Naxalbari elevou o processo de ruptura com os revisionistas e de forjar uma autêntica vanguarda comunista a uma nova e superior etapa. Em 1969, foi dado um passo audacioso: se formou o Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista), sob a direção de Charu Mazumdar. O congresso de fundação do P.C.I. (M.L.) que foi realizado em 1970 em meio do avanço da luta armada, adotou um programa que caracterizou a sociedade indiana como semifeudal e semicolonial e identificou os alvos da revolução, como o feudalismo, o capitalismo burocrático-comprador, e o imperialismo e o social-imperialismo (este último representado pelo antigo bloco soviético). O congresso fixou as tarefas na etapa de uma revolução de Nova Democracia e o caminho da Guerra Popular prolongada.
A revolução não é uma festa, mas sim, como colocou Mao Tsé-tung, é um ato de violência do qual uma classe derroca a outra. A nova vanguarda teve que se forjar em meio a intensa turbulência revolucionária que estava se desenvolvendo em extensas zonas da Índia. Teve que combater constantemente o pensamento e o estilo de trabalho revisionistas profundamente enraizados; teve que remodelar e treinar milhares de jovens como lutadores e líderes proletários; teve que sintetizar a rica experiência ganhada a custo de sangue, para desenvolver a linha e elevar o nível do trabalho partidário. E teve que fazer tudo isso enquanto concretizava audaciosos avanços na luta armada e enquanto combatia a repressão assassina do inimigo. A perde de um número de quadros experientes no início do novo partido, evidentemente tencionou sua capacidade de empreender essas tarefas. Algumas dificuldades sérias, produto de retrocessos, se complicaram com um vento direitista, no qual tratava de revogar a orientação correta do partido, transitando com debilidades reais de sua linha e de sua prática.
Tem-se falado muito acerca do chamado “sectarismo” e “aventureirismo” de Charu Mazumdar, no qual supostamente “isolou” o partido das massas e causou retrocessos. Sim, elementos unilaterais, espontâneos e subjetivistas que foram contra a posição, ponto de vista e métodos de essência marxista-leninista-maoísta de Charu Mazumdar, eram evidentes em suas obras. Mas o que mais se destaca, quando lemos hoje sua obra, é a resoluta claridade de sua crítica ao revisionismo, sua penetrante compreensão da questão chave de tomar o poder, sua profunda confiança nas massas, e seu robusto otimismo revolucionário. Longe do isolamento, sua liderança enraizou profundamente o partido entre as massas, e criou uma vasta reserva de apoio, da qual seguem usando hoje os autênticos revolucionários. Seu nome segue obcecando as classes dominantes, e inspirando aos revolucionários.
Depois do governo ter assassinado covardemente, com a ajuda dos revisionistas do P.C.I./P.C.M., a Charu Mazumdar em 1972, o P.C.I. (M.L.) não seguiu como um partido unido. Desde então, tem havido muita luta para fazer um balanço das experiências e das tentativas de se unificar. Em 1976, o golpe de Estado dos seguidores do caminho capitalista da China causou novas divisões, fortaleceu tremendamente as tendências direitistas no P.C.I. (M.L.), e gerou mais complexidades. Mas esta situação também criou novas e importantes obrigações e oportunidades para aprofundar a compreensão da ideologia, coisa que, por sua vez, deu um novo impulso à luta para fazer um balanço correto e alcançar uma unidade sobre bases corretas. Infelizmente, estas oportunidades foram desperdiçadas ou acabaram desviando-se nos casos onde apenas se aproveitavam. As autênticas forças revolucionárias levam anos elevando sua compreensão sobre o significado da luta internacionalista para defender o desenvolvimento qualitativo do marxismo-leninismo por Mao Tsetung a um nível novo, e para lutar contra os ataques revisionistas contra este, por parte dos usurpadores capitalistas da China dirigidos no começo por Hua Guo-feng e Deng Xiaoping, assim como pelos hoxhaistas. Esta questão, que ainda afeta diretamente as possibilidades de unir as forças maoísta revolucionárias em um único centro, permanece sem ser resolvida por completo. 
Durante todo esse período, as forças revolucionárias que foram parte do P.C.I. (M.L.) unido, assim como outras, tem continuado com heroísmo mantendo alto a bandeira vermelha de Naxalbari. Em Andhra, Bihar e Dandakaranya [2], lutas revolucionárias armadas tem feito avanços significativos, ganhando um amplo apoio das massas e acumulando importantes experiências.
Durante os últimos 30 anos, as condições que tornaram possível e necessária a rebelião agrária armada de Naxalbari, vem amadurando-se ainda mais. A agressiva penetração imperialista em todos os setores da economia, juntamente com a exploração e a opressão por parte das classes dominantes, está causando uma intensificação generalizada da miséria das massas. E, mais importante, esta situação está convocando a resistência e a luta, incluindo a luta armada, em diversas regiões e setores da sociedade. As divisões entre as classes dominantes têm aumentado.
Os revolucionários proletários de todo o mundo não podem dar-se ao luxo de mostrar a mínima indiferença aos avanços e as dificuldades de nossos camaradas da Índia. Hoje na Índia se desenvolve um processo revolucionário que todos os autênticos comunistas e revolucionários do mundo têm o dever de apoiar e aprender com ele. Nos diversos idiomas da Índia, “Naxalbari Zindabad! ” quer dizer “Viva Naxalbari! ”. Mas, para os oprimidos da Índia e do resto do mundo, esta palavra de ordem também quer dizer “A rebelião se justifica”.


Notas:

[1] O Partido Comunista da Índia (P.C.I.) é o partido revisionista pró soviético da Índia. O Partido Comunista da Índia (Marxista) (P.C.M.) surgiu de uma cisão centrista do P.C.I. em 1963, no qual criticou este último e a Kruschev pelo revisionismo, ainda que nunca adotou um programa revolucionário genuíno.
[2] Uma vasta região arborizada que abarca partes de quatro estados da Índia Central.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Igualdade de Direitos

Do Naenara

Traduzido por I.G.D.



Quando a Coreia estava ocupada militarmente pelo imperialismo japonês (1905-1945), a posição social das mulheres era muito deplorável. Muitas delas não sabiam seu próprio nome nem seu dia de nascimento, e quase a totalidade destas não conheciam o 8 de março, o Dia Internacional da Mulher.
Só depois da libertação nacional (15 de agosto de 1945) que elas puderam desfrutar de um autêntico direito à vida.
O Presidente Kim Il Sung, imediatamente após conquistar a causa da fundação do Partido na pátria libertada, organizou a União de Mulheres Democratas da Coreia. Denominou como “Mulher Coreana” a primeira revista para as mulheres da nova Coreia, cujo o primeiro número ele até escreveu uma mensagem de felicitação.
As mulheres coreanas que antes estavam sendo oprimidas por pesados entraves feudais, se levantaram na luta pela construção da nova sociedade.
Segundo dados, os jornais daquele tempo publicaram, em um ano, mais de cem artigos sobre a luta das mulheres, que demonstravam a mudança transcendental na posição social das mulheres coreanas que haviam sido marginalizadas na história.
No mês de março do ano seguinte da libertação, elas celebraram com dignidade, pela primeira vez na história, o 36º aniversário do Dia Internacional da Mulher.
Alguns meses depois, em 30 de julho, se proclamou a lei de igualdade de direitos do homem e da mulher, que foi uma verdadeira virada histórica no destino das mulheres.
O Presidente, com a célebre frase “uma roda da carruagem da revolução”, expressou de forma concisa a posição e o papel das mulheres coreanas que constituem a metade da população 
Ele era verdadeiramente o salvador e o benfeitor ímpar que lhes ofereceu a dignidade e a felicidade.
Aqui está uma história impressionante. 
No distrito de Phyonggang, província de Kwangwon, vivia um casal de caçadores que antes da libertação haviam servido um latifundiário.
Depois do país ter sido libertado, o Presidente Kim Il Sung se reuniu com eles, escutou a mulher de nome Ri Su Dok falando sobre sua trágica vida passada, e disse a ela que se as mulheres se levantarem com forças unidas na edificação da nova pátria, seriam capazes de fazer coisas grandes e que elas constituíam um firme alicerce na construção desta, da mesma maneira que os homens. E lhes entregou um certificado de reconhecimento em seu nome, uma espingarda e uma câmera.
Ri Su Dok, tendo em conta o amor e a confiança do Presidente nela, a quem não haviam tratado como um ser humano no passado, organizou uma guerrilha durante a Guerra de Libertação da Pátria (junho 1950 a julho de 1953) para travar uma luta de vida ou morte contra os invasores.
O Presidente Kim Il Sung destacou no congresso do Partido a questão de libertar as mulheres das cargas pesadas das tarefas domésticas e quando se reuniu com estas que viviam desencorajadas pelos seus maridos que cometeram delitos contra o país pois foram enganados pelos invasores ianques, lhes retirou o amontoado de carga psicológica e lhes abriu um largo caminho para uma vida feliz.
O Dirigente Kim Jong Il que continuou e desenvolveu compactamente a ideia e as proezas do Presidente Kim Il Sung acumuladas no movimento das mulheres, orientou-as a avançar com firmeza pelo caminho da revolução diante de quaisquer vicissitudes. No 8 de março de 1995, publicou a obra clássica imperecível intitulada “As Mulheres Constituem uma Poderosa Força Impulsora da Revolução e da Construção”.
Quando fazia as inspeções em unidades militares, apreciava as soldados dizendo a elas que eram revolucionárias que defendiam a pátria e que contar com uma numerosa tropa como esta constituía um grande orgulho de nosso Partido e povo.
Em uma entrevista com uma cientista, ele perguntou detalhadamente de sua especialidade e a animou dizendo que ganhara fama nas pesquisas. Quando ela escreveu sobre a notícia de haver alcançado o doutorado, o Dirigente Kim Jong Il respondeu dizendo que era uma notícia alegre e lhe desejou maiores êxitos em suas pesquisas.
Sob a atenção minuciosa do Dirigente Kim Jong Il, uma varredora comum se fez benemérita da época do Songun e as mulheres que pariram e criam muitos filhos são respeitadas como heroínas maternas.
Um dia, em fevereiro de 2010, o Dirigente Kim Jong Il, as vésperas do centenário do Dia Internacional da Mulher, destacou que tal data era para ser comemorada com maior significação.
Com motivo desse dia, o Dirigente Kim Jong Il enviou a todas as mulheres uma mensagem de felicitação, que impressionou todo o povo.
Uma parte da mensagem dizia:
“Considero como grande orgulho as nossas mulheres, que são fieis infinitamente ao Partido e ao Líder, se abnegam para a prosperidade da pátria e possuem nobres traços ideológico-espirituais, e aprecio muito as proezas históricas delas. Aproveitando esta oportunidade, envio a todas as mulheres do país uma felicitação calorosa.
Entre os grandes líderes e as mulheres coreanas existiu uma relação tão íntima quanto a de uma família e tal laço fraternal se mantém, até os dias de hoje, com mais nobreza entre estes e o Marechal Kim Jong Un.
Em 2012, ano em que o falecimento do Dirigente Kim Jong Il deixava uma grande dor no coração de todas as mulheres coreanas, o Marechal fez celebrar um pomposo concerto motivado pelo Dia Internacional das Mulheres, a fim de felicitá-las.
Durante a IV Conferência Nacional de Mães, expressou máxima confiança às participantes, apreciando-as como pessoas magníficas que cumpriam com deveres da época assumidos diante da pátria e da nação com nobre lealdade e patriotismo.
Para a saúde das mulheres, construiu-se a nível máximo na Maternidade de Pyongyang, o instituto de tumores de glândulas mamárias, e ao visitar famílias comuns que se mudaram para novas casas, doou a estas, utensílios de cozinha. Para as operárias da Fábrica Têxtil Kim Jong Suk de Pyongyang, foi construído, como se fosse um palácio, um albergue operário e foi dada uma festa motivada pelo Primeiro de Maio.
Quando se formaram, pela primeira vez no país, as pilotos de aviões de caça, o Marechal Kim Jong Un disse que isso era um grande sucesso de todo o país e que elas eram filhas orgulhosas da pátria e do povo, e que eram também revolucionárias insubstituíveis. E lhes perguntou com carinho sobre sua terra natal e seus pais, e destacou que estes se sentiriam muito felizes ao ouvir a notícia de que suas filhas no serviço militar se formaram como pilotos de aviões de caça, representando todas as mulheres coreanas. Foram tiradas fotografias com elas e inclusive lhes tiraram fotos para não apenas serem enviadas aos seus respectivos pais, mas também para que fossem apresentadas para todo o país.
Sob seu amor e atenção todas as mulheres coreanas entre outras as soldados da companhia de caquis, beneméritas da província de Jagang, cientistas, artistas e atletas, desfrutam de uma vida digna e feliz.
Hoje, elas exercem dignamente o direito a palavra nas assembleias populares de órgãos de poder a toda instância, incluindo a suprema, e desempenham um papel importante na luta pela prosperidade nacional como heroínas, beneméritas da época do Songun, funcionárias, etc.

sábado, 5 de março de 2016

Sobre as Causas da Aparição da Oposição Trotskista e Seu Futuro na China

Informe ante uma reunião de quadros da célula diretamente subordinada ao Comitê Central do PCCh

Outubro de 1929

Por Zhou Enlai

Traduzido por I.G.D.



Como se destaca na circular Nº 44 do Comitê Central (1), embora não devamos exagerar no que se refere a influência política e organizativa que a oposição exerce no Partido, de maneira alguma devemos permanecer indiferentes diante de suas crescentes atividades e manifestações antipartido.
A derrota da Grande Revolução e o surgimento de uma ressaca revolucionária, constituíram a causa principal da aparição desta oposição na China, tanto que os atrasados “companheiros de estrada” pequeno-burgueses que estavam no Partido viriam a compor a base de seu crescimento. Há aqueles que afirmam que a responsabilidade de sua presença na China correspondia aos “estudantes que haviam retornado de Moscou”. Tal argumentação é errônea, pois estes não tem cumprido mais do que um papel catalizador. Agora, vamos destacar as principais causas objetivas de sua aparição.
Primeiro. Nos tempos iniciais depois de sua instauração, o governo de Nanjing se preocupava muito em introduzir na China o ideário da oposição da Rússia a fim de dividir o Partido Comunista. A oposição trotskista é apreciada como um “tesouro” não somente pela burguesia da Europa, mas também pelas classes dominantes da China. Quando a oposição no seio do Partido Comunista da Rússia era teimosa com sua própria linha, a burguesia da Europa lhe prestou suma atenção e pretendeu utilizá-la para dividir o Partido Comunista da Rússia e liquidar sua linha correta. Na China, Hu Han Min (2), Dai Jitao (3) e Zhou Fohai (4) trataram de desmembrar o Partido Comunista fazendo uma propaganda a favor da oposição. As classes dominantes da China acabavam por aproveitarem-se dela como um instrumento no seio do Partido Comunista para aniquilar esta força dirigente da revolução chinesa. Assim, pois, o ambiente político da China tem sido favorável para as atividades da oposição. Esta tem sido a primeira causa objetiva de sua aparição.
Segundo. O fracasso de uma revolução traz inevitavelmente fortes sentimentos de derrotismo e produz, como é lógico, muitas disputas. Isto sucedeu na Rússia após 1905, e na Alemanha a raiz da derrota de sua revolução. E assim ocorreu também na China, uma experiência semelhante após o fracasso da Grande Revolução (5). A partir da Reunião de 7 de agosto, o Partido Comunista da China obteve muitos êxitos na retificação do oportunismo no organizativo, mas não levou até o fim a luta contra este no aspecto teórico e ideológico. Foi com a realização do VI Congresso Nacional quando se obteve certo êxito nesta luta. Apesar disto, as tendências nocivas de todo tipo existentes no Partido e as distintas correntes políticas oriundas da raiz do fracasso da Grande Revolução, especialmente a oportunista, estavam na espreita para entrar em ação. Esta tem sido a segunda causa do surgimento da oposição na China, e também a causa fundamental da confabulação ideológica e organizativa dos oportunistas e dos opositores no seio do Partido.
Terceiro. Até agora, ainda não se pode dizer que a vida interna de nosso Partido está completamente saudável. Ainda que no organizativo temos trabalhado para desenraizar o oportunismo e admitido no Partido um bom número de operários, não se instituíram práticas saudáveis na vida da célula. Daí as frequentes vacilações na vida do Partido. Em algumas células, a linha correta do Partido não tem sido seriamente discutida por todos os membros, e, por conseguinte, sua linha política não se firmou como é devido no plano organizativo. Frequentemente aparecem células que não podem explicar tal ou qual problema de acordo com a linha correta, o que conduz a sua vacilação. Em Shanghai, certas células chave do setor industrial não estão ainda consolidadas, enquanto que outras possuem uma fraca vida política. Como resultado disso, essas células, mostrando-se ativas no caso de sucesso na luta, acabam desmoralizadas e ainda chegam a se desfazer quando sofrem derrotas. Isto evidencia que a linha política do Partido não foi consolidada em todo o plano organizativo. Assim, não somente a oposição, mas também os oportunistas, podem facilmente explorar este fenômeno para levar a cabo seus planos. Esta tem sido a terceira causa objetiva.
Quarto. A raiz do fracasso da Grande Revolução, entre os numerosos elementos que haviam se mostrado vacilantes no período da cooperação com o Kuomintang, uns tem desistido de seus postos de trabalho, outros persistem no localismo, e outros mais se recusam a corrigir seus erros, sem que se haja superado estes fenômenos nocivos no organizativo. Estes elementos provocam disputas sem princípios meramente por insignificantes problemas pessoais, de modo que a oposição tem sido capaz de arrastar consigo tais elementos descontentes com a linha do Partido e ainda se aproveitam de tais disputas para levar adiante suas atividades antipartido. Esta tem sido a quarta causa objetiva.
Embora não se haviam conhecido no passado atividades da oposição, as quatro causas mencionadas tornaram inevitáveis por algum tempo as tais atividades no país. Desde então, o retorno de alguns estudantes do estrangeiro e a ressureição do oportunismo foram causa direta de sua aparição.
Em relação a linha tática da oposição trotskista, podemos advertir os quatro seguintes pontos:
Primeiro, inelutável confabulação com as classes dominantes. Em “Vida Nova” (6), já se publicaram artigos escritos pela oposição. Esta seguirá usando os órgãos de propaganda das classes dominantes para ajuda-las em suas atividades anticomunistas. Se caso fracassar na luta que levam a cabo no seio do Partido, sem dúvida se entregará inteiramente a essas classes. Este é seu inevitável futuro.
Segundo, propaganda e atividades ilustrativas de sua linha antipartido em todos os problemas práticos atuais. Com motivo do aniversário do Movimento do 30 de Maio, a oposição trotskista publicou uma declaração em que chamou os militantes a lutar contra o Partido Comunista, concedendo a esta luta uma maior importância do que a luta anti-imperialista. Sem sombra de dúvidas, assim estava fazendo, objetivamente, o jogo do inimigo. Quando celebramos a manifestação do 1º de agosto (7), a considerou como uma ação putchista, deixando passar uma forte dose de derrotismo. Seu ponto de vista demonstra um liquidacionismo pessimista e ultradireitista.
Terceiro, tática de se manter e atuar dentro das células explorando a imperfeição da vida do Partido em algumas delas. Permanece nelas para fazer vacilar as massas, e busca em especial as células que têm sofrido derrotas na luta a fim de aproveitar-se destas para atacar a linha do Partido. Em momentos difíceis de nossa luta, lança palavras de ordem ultra esquerdistas como “confiscação das fábricas”, com o intuito de deixar isolada a classe operária e induzir as massas operárias a adotar ilusões sobre um paraíso futuro e a perder de vista a significação real da luta atual. Por outro lado, formula táticas ultradireitistas nos problemas práticos, levando as células operárias a um beco sem saída e à desmoralização.
Quarto, colaboração com os oportunistas chineses. Obstinados pela sua linha, os oportunistas não conseguem se adentrar nas massas, mas tampouco podem deixar de buscar um novo programa político que lhes sirva para encobrir seus erros. É assim que o programa da oposição lhes cai como uma luva, permitindo encobrir erros cometidos no passado, formular palavras de ordem revolucionárias “esquerdistas”, mas manter na realidade uma apreciação de direita da situação da revolução e aplicar táticas direitistas. Por isso, o programa da oposição tem sido aproveitado pelos oportunistas. E a oposição, por sua vez, recorre a tática de apoiar-se nos oportunistas para levar adiante suas atividades antipartido. Desta maneira a facção oportunista e a oposição estão unidas – são farinha do mesmo saco.
Ainda mais, a oposição trotskista mente, difama e calunia deliberadamente, tirando vantagem de problemas e de disputas insignificantes, enquanto deixa de lado assuntos de princípios, com a finalidade de minar a confiança dos camaradas dos órgãos dirigentes do Partido. Isto apenas serve de ajuda ao inimigo na difamação da liderança revolucionária.
As atividades da camarilha da oposição têm sido descobertas em Shanghai, Hong Kong e no norte da China. Eles guardam segredo sobre sua organização do Partido. Precisamente por isso é imperativo expor este problema para as organizações de base e conduzir os camaradas a discutir este e liquidar totalmente com as atividades dos oportunistas e da oposição. Como alguns elementos da camarilha da oposição não expõem publicamente seus pontos de vista, não conhecemos todos eles. Portanto, nós devemos submeter o problema da oposição para as discussões das células, e utilizar esta situação para educar os camaradas e firmar uma sólida base para a linha correta de nosso Partido. A fim de solidificar a linha correta no organizativo, todos os camaradas devem compreender a necessidade da luta entre a linha correta e a incorreta. Por conseguinte, além de aplicar as devidas sanções organizativas, é absolutamente indispensável engajar-se na luta nos campos ideológico e teórico, que é uma arma muito importante para consolidar o Partido na atualidade.



NOTAS

(1) Circular “Sobre a oposição dentro do Partido Comunista da China”, emitida pelo Comitê Central do Partido Comunista da China a agosto de 1929.
(2) Hu Hanmin (1879-1936) exerceu as funções de chefe militar supremo do governo de Guangzhou e foi governador da província de Guangdong durante a Primeira Guerra Civil Revolucionária. Conspícuo líder dos direitistas, foi cúmplice de Chiang Kai-shek no golpe de Estado contrarrevolucionário de 12 de abril de 1927. Mais tarde entrou em uma prolongada disputa com a camarilha de Chiang pelo poder e lucro.
(3) Dai Jitao (1890-1949), fiel seguidor de Chiang Kai-shek antes e depois do golpe de Estado contrarrevolucionário de 12 de abril de 1927. Durante o período da Primeira Guerra Civil Revolucionária, tergiversou o conteúdo revolucionário da doutrina de Sun Yat-sen e propalou absurdos contra o Partido Comunista e o movimento operário-camponês, preparando deste modo o terreno ideológico para o golpe de Estado contrarrevolucionário de Chiang Kai-shek.
(4) Zhou Fohai (1897-1948) assistiu em 1921 ao I Congresso Nacional do Partido Comunista da China, mas renegou este em 1924. Depois da traição de Chiang Kai-shek a revolução, foi chefe do Departamento de Propaganda de Comitê Executivo Central do Kuomintang. Iniciada a Guerra de Resistência contra o Japão, passou ao lado dos invasores japoneses, traindo a pátria. Desempenhou o cargo de vice-presidente do Yuan Executivo no governo títere de Wang Jingwei e outras funções.
(5) Se refere a Primeira Guerra Civil Revolucionária (1924-1927), chamada também de Expedição do Norte.
(6) Revista mensal reacionária, redigida por Zhou Fohai, que teve sua aparição em 1928, em Shanghai.
(7) Em julho de 1919, a Segunda Internacional, que apoiava a guerra imperialista durante a primeira conflagração mundial, decidiu celebrar em 1º de agosto seu congresso em Lucerna, Suíça. O Comitê Executivo da Internacional Comunista convocou os operários de todo mundo a manifestarem-se nesse mesmo dia contra a Segunda Internacional. Em julho de 1929, em sua X Sessão Plenária foi fixado o 1º de agosto como data internacional contra a guerra imperialista; quando chegou este dia, o Partido Comunista da China organizou uma manifestação anti-imperialista em Shanghai.