Publicado pelo blog Revolución
en la India
Traduzido por I.G.D
Há 40 anos, a rebelião
armada dos camponeses de Naxalbari, uma aldeia no estado de Bengala Ocidental,
foi a causa de uma conflagração revolucionária na Índia. Os grilhões seculares
da opressão e exploração foram atacados. Os revisionistas apelaram a continuar
vivendo obedientemente como escravos, mas foram ignorados com desdém. Os
camponeses pobres e pisoteados se atreveram a tomar o poder político e a
expropriar os frutos de seu trabalho das mãos dos odiosos latifundiários.
Naxalbari fez sacudir o
país inteiro. A fúria reprimida dos mais pobres da sociedade, dos adivasis e
dos dalits (tribos e “intocáveis” da sociedade de castas), além de outros
camponeses pobres e sem-terra, estalou em forma de bravas tormentas de fúria
revolucionária em inúmeros lugares em todo o país. As rajadas de vento de
Naxalbari arrancaram décadas de fedor revisionista e incitaram a rebelião, a
centenas de quadros, presos em partidos como o P.C.I. e o P.C.M [1]. Em Calcutá e em um número de
pequenos centros industriais, grandes grupos de trabalhadores e de gente pobre
urbana, romperam com os chefes sindicais. Um grande número se lançou para a
batalha, lutando na vanguarda da revolução agrária armada como proletários com
consciência de classe. Muitos setores sociais, como profissionais, acadêmicos e
outros, se uniram ao festival revolucionário das massas. Naxalbari contagiou
toda uma geração de jovens e estudantes, e canalizou a força revolucionária de
milhares destes jovens, apreendidos dos ideais comunistas de servir ao povo e
de se sacrificar pela causa da revolução.
Apesar de longos
períodos de dominação revisionista anteriores a Naxalbari, o movimento
comunista na Índia também teve uma inspiradora história de luta revolucionária.
Foram notáveis os cinco anos de luta armada de Telengana a fins dos anos 40, da
qual conseguiu estabelecer o poder vermelho em centenas de aldeias durante seu
apogeu, mas esta logo traiu a direção do P.C.I. Grupos de revolucionários
tomaram partido com Mao Tsetung na luta contra o revisionismo soviético. Mas
Naxalbari representou um salto. Isto foi porque se tomou a consciência do
pensamento Mao Tsetung como uma nova etapa qualitativa do marxismo-leninismo, e
sua aplicação as condições da Índia, para iniciar a luta armada revolucionária
das massas. Este é o elemento chave e distintivo que lançou Naxalbari a esta
etapa. Dirigido por Charu Mazumdar, um grupo de quadros revolucionários na
organização do P.C.M. do distrito de Darjeeling, lutou conscientemente pelo
aprofundamento da luta contra o revisionismo e o centrismo. Tirando valiosas
lições da luta ideológica guiada por Mao Tsetung contra o revisionismo
kruschevista, e outras lições da Grande Revolução Cultural Proletária da China,
Charu Mazumdar conseguiu romper radicalmente com o revisionismo (incluindo o reconhecimento
da então existente União Soviética sob a direção revisionista como um inimigo),
e lançou a revolução agrária armada até a tomada do poder político, pouco a
pouco, por meio do caminho da Guerra Popular Prolongada. Naxalbari foi uma
parte da revolução proletária mundial: aproveitou a luta revolucionária em
outros países na região, e recebeu o apoio entusiasta do Partido Comunista da
China e do proletariado revolucionário de todo o mundo.
Naxalbari elevou o
processo de ruptura com os revisionistas e de forjar uma autêntica vanguarda
comunista a uma nova e superior etapa. Em 1969, foi dado um passo audacioso: se
formou o Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista), sob a direção de
Charu Mazumdar. O congresso de fundação do P.C.I. (M.L.) que foi realizado em
1970 em meio do avanço da luta armada, adotou um programa que caracterizou a
sociedade indiana como semifeudal e semicolonial e identificou os alvos da
revolução, como o feudalismo, o capitalismo burocrático-comprador, e o
imperialismo e o social-imperialismo (este último representado pelo antigo
bloco soviético). O congresso fixou as tarefas na etapa de uma revolução de
Nova Democracia e o caminho da Guerra Popular prolongada.
A revolução não é uma
festa, mas sim, como colocou Mao Tsé-tung, é um ato de violência do qual uma
classe derroca a outra. A nova vanguarda teve que se forjar em meio a intensa
turbulência revolucionária que estava se desenvolvendo em extensas zonas da
Índia. Teve que combater constantemente o pensamento e o estilo de trabalho
revisionistas profundamente enraizados; teve que remodelar e treinar milhares
de jovens como lutadores e líderes proletários; teve que sintetizar a rica
experiência ganhada a custo de sangue, para desenvolver a linha e elevar o
nível do trabalho partidário. E teve que fazer tudo isso enquanto concretizava
audaciosos avanços na luta armada e enquanto combatia a repressão assassina do
inimigo. A perde de um número de quadros experientes no início do novo partido,
evidentemente tencionou sua capacidade de empreender essas tarefas. Algumas
dificuldades sérias, produto de retrocessos, se complicaram com um vento
direitista, no qual tratava de revogar a orientação correta do partido,
transitando com debilidades reais de sua linha e de sua prática.
Tem-se falado muito
acerca do chamado “sectarismo” e “aventureirismo” de Charu Mazumdar, no qual
supostamente “isolou” o partido das massas e causou retrocessos. Sim, elementos
unilaterais, espontâneos e subjetivistas que foram contra a posição, ponto de
vista e métodos de essência marxista-leninista-maoísta de Charu Mazumdar, eram
evidentes em suas obras. Mas o que mais se destaca, quando lemos hoje sua obra,
é a resoluta claridade de sua crítica ao revisionismo, sua penetrante
compreensão da questão chave de tomar o poder, sua profunda confiança nas
massas, e seu robusto otimismo revolucionário. Longe do isolamento, sua
liderança enraizou profundamente o partido entre as massas, e criou uma vasta
reserva de apoio, da qual seguem usando hoje os autênticos revolucionários. Seu
nome segue obcecando as classes dominantes, e inspirando aos revolucionários.
Depois do governo ter
assassinado covardemente, com a ajuda dos revisionistas do P.C.I./P.C.M., a
Charu Mazumdar em 1972, o P.C.I. (M.L.) não seguiu como um partido unido. Desde
então, tem havido muita luta para fazer um balanço das experiências e das
tentativas de se unificar. Em 1976, o golpe de Estado dos seguidores do caminho
capitalista da China causou novas divisões, fortaleceu tremendamente as
tendências direitistas no P.C.I. (M.L.), e gerou mais complexidades. Mas esta
situação também criou novas e importantes obrigações e oportunidades para
aprofundar a compreensão da ideologia, coisa que, por sua vez, deu um novo
impulso à luta para fazer um balanço correto e alcançar uma unidade sobre bases
corretas. Infelizmente, estas oportunidades foram desperdiçadas ou acabaram
desviando-se nos casos onde apenas se aproveitavam. As autênticas forças
revolucionárias levam anos elevando sua compreensão sobre o significado da luta
internacionalista para defender o desenvolvimento qualitativo do
marxismo-leninismo por Mao Tsetung a um nível novo, e para lutar contra os
ataques revisionistas contra este, por parte dos usurpadores capitalistas da
China dirigidos no começo por Hua Guo-feng e Deng Xiaoping, assim como pelos
hoxhaistas. Esta questão, que ainda afeta diretamente as possibilidades de unir
as forças maoísta revolucionárias em um único centro, permanece sem ser
resolvida por completo.
Durante todo esse
período, as forças revolucionárias que foram parte do P.C.I. (M.L.) unido,
assim como outras, tem continuado com heroísmo mantendo alto a bandeira
vermelha de Naxalbari. Em Andhra, Bihar e Dandakaranya [2], lutas revolucionárias armadas tem feito avanços
significativos, ganhando um amplo apoio das massas e acumulando importantes
experiências.
Durante os últimos 30
anos, as condições que tornaram possível e necessária a rebelião agrária armada
de Naxalbari, vem amadurando-se ainda mais. A agressiva penetração imperialista
em todos os setores da economia, juntamente com a exploração e a opressão por
parte das classes dominantes, está causando uma intensificação generalizada da
miséria das massas. E, mais importante, esta situação está convocando a
resistência e a luta, incluindo a luta armada, em diversas regiões e setores da
sociedade. As divisões entre as classes dominantes têm aumentado.
Os revolucionários
proletários de todo o mundo não podem dar-se ao luxo de mostrar a mínima
indiferença aos avanços e as dificuldades de nossos camaradas da Índia. Hoje na
Índia se desenvolve um processo revolucionário que todos os autênticos
comunistas e revolucionários do mundo têm o dever de apoiar e aprender com ele.
Nos diversos idiomas da Índia, “Naxalbari Zindabad! ” quer dizer “Viva
Naxalbari! ”. Mas, para os oprimidos da Índia e do resto do mundo, esta palavra
de ordem também quer dizer “A rebelião se justifica”.
Notas:
[1] O Partido Comunista da Índia (P.C.I.) é o
partido revisionista pró soviético da Índia. O Partido Comunista da Índia
(Marxista) (P.C.M.) surgiu de uma cisão centrista do P.C.I. em 1963, no qual
criticou este último e a Kruschev pelo revisionismo, ainda que nunca adotou um
programa revolucionário genuíno.
[2] Uma vasta região arborizada que abarca
partes de quatro estados da Índia Central.
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